sábado, 17 de fevereiro de 2007

O discurso dos apóstolos

O capítulo treze do livro de Atos dos Apóstolos narra o início da missão de Paulo e Barnabé. Os dois aparecerão juntos por muitos capítulos, assim como nos capítulos anteriores havíamos nos acostumados com outra dupla, Pedro e João.

Pedro e Paulo destacam-se por serem os responsáveis pelos discursos, mas não por importância, uma vez que o apóstolo amado era João e o tutor de Paulo, que no judaísmo era Gamaliel, agora era o encorajador Barnabé. Mas não vem ao caso discutirmos a importância dos apóstolos e sim a mensagem que ressoa por todas as páginas deste sublime livro.

Muitos menosprezam os ensinos de Atos e atentam apenas para as manifestações sobrenaturais descritas no livro. Digo apenas, pois os milagres ausentes da proclamação do evangelho não significam nada. Não há narração de milagre ocorrendo por mera vontade e deleite dos apóstolos. Pelo contrário, a cena é aterrorizante, dos apóstolos apenas João não será martirizado, mas não obstante foi açoitado algumas vezes e passou a velhice exilado na ilha de Patmos. A abnegação é a palavra que melhor descreve a condição de servo desses homens, paradoxalmente livres em Jesus.

A missão desses homens não era construir edifício, muito menos formar um grupo de louvor, ou ainda ater-se a algum projeto de crescimento da membresia de suas comunidades. A obra para a qual eles haviam sido chamados e se empenhavam por cumpri-la era tão somente testemunhar a cerca de Jesus.

O problema é que corrompemos a palavra testemunha e hoje a confundimos com simpatizantes. O simpatizante busca a era dos milagres embora não haja compromisso algum com o Operador do milagre. O simpatizante busca o milagre para seu próprio prazer. O simpatizante transmite aquilo que acha interessante e o que agrada aos ouvintes. O simpatizante descreve um modelo de vida cristão no qual Jesus está ausente. O simpatizante não consegue amar ao próximo, mas antes arde em ciúmes. O simpatizante não consegue desenvolver uma cosmovisão cristã e acabar por segmentar sua vida em sagrado e secular, vivendo uma eterna dicotomia infeliz. O simpatizante é mentiroso. O simpatizante não é filho.

Portanto, meus irmãos, quero que saibam que mediante Jesus lhes é proclamado o perdão dos pecados. Por meio dele, todo aquele que crê é justificado de todas as coisas das quais não podiam ser justificados pela Lei de Moisés. Cuidem para que não lhes aconteça o que disseram os profetas: " 'Olhem, escarnecedores, admirem-se e pereçam; pois nos dias de vocês farei algo que vocês jamais creriam se alguém lhes contasse! Atos 13:38-42.

O apelo de Paulo é para voltarmos a Jesus e deixar de lado todo modismo, pois não iremos encontrar libertação dos pecados em outra fonte, nossa dignidade vem Dele somente. Voltemos a viver e a pregar O Evangelho e não um evangelho segundo os evangélicos. Que a graça do Senhor esteja sobre a Igreja!

O SABER


SABER POR SABER É VAIDADE
SABER PARA DEMOSNTRAR É ARROGÂNCIA
SABER PARA COMPETIR É PREPOTÊNCIA
SABER PARA AMAR E SERVIR É VIRTUDE

BERNARDO DE CLAIRVAUX (1090-1153)




SALVOS PELA GRAÇA

"Irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu dentre vocês para que os gentios ouvissem de meus lábios a mensagem do evangelho e cressem. Deus, que conhece os corações, demonstrou que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo, como antes nos tinha concedido. Ele não fez distinção alguma entre nós e eles, visto que purificou os seus corações pela fé. Então, por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, pondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar? De modo nenhum! Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também".

Discurso de Pedro no concílio de Jerusalém (Atos 15).

O livro de Atos dos Apóstolos contém 28 capítulos, e exatamente o primeiro capítulo da segunda metade da carta trata exatamente da centralidade da fé cristã, e de uma vez por todas há uma ruptura na observação da lei mosaica pelos seguidores de Jesus Cristo.

Após a ressurreição e a ascensão de Jesus, os apóstolos cheios do Espírito de Deus espalham a mensagem do evangelho em Jerusalém, mas por não cumprirem Atos 1:8, Atos 8:1 se cumpre no meio da Igreja e as boas novas começam a alcançar os gentios. Muitos gregos, romanos e bárbaros se convertem ao evangelho, e conseqüentemente surge um dilema no meio da Igreja – Devem os gentios convertidos observarem a lei de Moisés?

O capítulo quinze deste livro relata o extraordinário concílio de Jerusalém, convocado devido à austeridade com que alguns cristãos judeus exortavam os gentios a se circuncidarem e observarem a lei de Moisés, sem a qual não haveria salvação. Paulo e Barnabé em grande contenda com esses que profanavam o evangelho de Jesus são chamados à Jerusalém. Em meio a muito fervor nas discussões, Pedro toma a palavra e faz um breve discurso que viria a por fim a essa disputa - Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus!

Pedro e Paulo haviam concluído que a Lei era um jugo impossível de ser suportado, e que se ela fosse relevante para a salvação do homem o sacrifício de Cristo havia sido inútil. Jesus nos lembra que Ele cumpriu as exigências da Lei e por isso convida todos que estão cansados e sobrecarregados (pela Lei) a tomar seu jugo e fardo, pois são suave e leve, ao contrário da Lei (Mt 11:28-30).


Infelizmente, após 2000 anos de cristianismo continuamos a presenciar o mesmo embate, homens inescrupulosos que se valem da lei para aprisionar e subjugar os cristãos, apresentando um estereotipo de santidade que em nada difere do moralismo, e por fim anulam a graça de Jesus. A liberdade cristã é convertida em escravidão religiosa, vivemos atemorizados em nossas cavernas, doentes e isolados do mundo.

Uma pequena reflexão nos levará a constatar que todo nosso sistema eclesiástico está fundamentado numa estrutura semelhante a sacerdotal do Velho Testamento e que inúmeras ordenanças da lei de Moisés estão presentes em nossa comunidade, e sem suporte algum no Novo Testamento.

Disse Jesus, "ai de vocês também!, porque sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e vocês mesmos não levantam nem um dedo para ajudá-los (Lc 11:46).