quarta-feira, 24 de abril de 2013

É preciso aprender a perder



Desde aquele momento Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia.Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: "Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá! "Jesus virou-se e disse a Pedro: "Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens".
Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a encontrará.Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?
Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um de acordo com o que tenha feito. 
Mateus 16:21-27


Num mundo que estimula a ganância e a insatisfação; numa sociedade individualista que procura e defende seus direitos em detrimento do coletivo, que não respeita os limites da comunidade; o produto só pode ser um homem que procura vantagens e privilégios a qualquer custo, que busca o melhor negócio possível com toda a sua alma e idolatra o lucro.

É pra esse homem que está entorpecido nos seus pecados que Jesus faz o convite mais inesperado: segue-me, renuncie tudo o que você tem, deixe sua família, doe sua riqueza aos pobres, abra mão do seu olho que o faz pecar, entregue sua vida, não peque mais, não ame as coisas que estão no mundo... pois doravante eu farei de você pescador de homens, filho de Deus, amigo de Deus, povo de Deus, membro da família de Deus com muitos irmãos.

Realmente as palavras de Jesus não combinam com o espírito do nosso século, com a tendência do mundo, com o curso do pecador. Jesus veio trazer redenção para aquele que está perdido, e isso envolve todo o indivíduo, não apenas uma área da vida, mas tudo o que somos. Jesus resgata a nossa humanidade e dignidade, e isso envolve todo o nosso ser. A redenção de Jesus envolve uma profunda e completa mudança de mente, hábitos, propósitos e maneira de se relacionar com o próximo e a criação. Jesus nos chama por inteiro, e não apenas uma parte da nossa vida.

Se ainda não ficou claro, veja a parábola que Jesus contou sobre o reino de Deus. “O reino de Deus também é como um comerciante de joias que busca as melhores pérolas. Um dia, encontra a pérola perfeita e imediatamente vende tudo o que possui para comprá-la.” Mateus 13:45-46. O que a parábola de Jesus nos conta é que seguir a Jesus e participar do reino de Deus envolve tudo o que somos, e implica necessariamente numa renúncia da vida outrora ignorante a cerca dos preceitos de Deus.

Queridos irmãos, precisamos aprender a perder, abrir mão, parar de roer o osso. Nós precisamos aprender a ter prejuízo. Em alguns casos, ainda que seja lícito o nosso direito, precisamos aprender a perdoar, entregar a nossa veste, oferecer a outra face, andar mais uma milha, não entrar em litígio com o irmão, não escandalizar o fraco na fé, ceder a vez... e assim por diante.

O mundo não vai mudar se não começar por nós. Os nossos políticos não serão honestos, nossos governantes preocupados com as desigualdades, nossos juízes em promover a justiça, nossos profissionais em prestar um serviço com excelência... porque no final das contas ninguém está preocupado com o outro, mas sim com seus próprios interesses. Nós recebemos a missão de sermos a luz do mundo e o sal da terra, para que os homens vendo a nossa boa obra glorifiquem a Deus. Mas se perdemos o sabor não serviremos para mais nada, apenas para ser jogado no lixo, viver à margem com um testemunho do evangelho marginal e indiferente ao mundo.

O nosso padrão é o próprio Senhor Jesus, que não compadeceu de si próprio, mas deixou sua glória de lado, humilhou-se por nós. E através da sua perda obtivemos vida. Você deseja seguir a Jesus? Pare de compadecer de si mesmo, de se auto justificar, abra mão da sua vida, consagre-se ao Senhor por completo e caminhe em obediência à vocação que dEle recebemos (fazer discípulos), ainda que isso nos seja custoso e envolva perdas.

Lembre que Deus não fica nos devendo nada, que no mundo teremos aflições, mas que a mesma vitória que Jesus obteve nós teremos também, que não precisamos andar ansioso por nada, pois Ele é o provedor daqueles que buscam o seu Reino em primeiro lugar, que a promessa de Jesus a seus seguidores é vida com qualidade e mais rica que qualquer outra, e que por fim receberemos a vida eterna.

Em algumas situações as renúncias que serão exigidas de nós estarão relacionadas com a coerência da nossa vida, com a nossa integridade em obedecer ao Senhor, como nos embates diários que enfrentamos: obras da carne x obras do Espírito; andar na Luz x andar nas trevas; amar a Deus x amar o mundo. Por outro lado, noutras situações as perdas estarão relacionadas ao mal presente no mundo por causa do pecado e que nos afetará com a permissão de Deus: como perda de saúde/morte; bens materiais; emprego; amigos/familiares). As perdas são inevitáveis, a gente não consegue reter nem o nosso próprio fôlego de vida, quanto mais às demais coisas que envolvem a nossa existência.

Precisamos lembrar

1.      Precisamos lembrar que coisas ruins acontecem também às pessoas boas, enquanto nossa salvação não for completada continuaremos sujeitos aos efeitos do pecado. Embora não mais condenados e dominados pelo pecado, ainda sofremos com o seu assédio e presença em toda espécie de relacionamento. Entretanto, precisamos lembrar que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, a fim de sermos parecidos com Jesus Cristo (Rm 8:28-29). E isto não é fatalismo, mas confiança no Deus amoroso e misericordioso que reina sobre toda a Terra.

2.      Precisamos lembrar que a noção comunitária não deve estar sujeita aos prazeres e caprichos do indivíduo, mas que fomos convocados para compartilhar as boas novas do evangelho, a fazer discípulos, a socorrer o necessitado, a praticar a hospitalidade e o acolhimento, a combater toda forma de injustiça e perversidade que subjulga e desumaniza o próximo... Enfim, todos receberam a convocação de amar o próximo e isso envolve serviço e dedicação.

3.      Precisamos lembrar que nos encontramos numa situação de peregrinos, e que a nossa esperança está nos novos céus e na nova terra, aonde a traça não corrói o nosso tesouro, a morte está morta, o pecado não está mais presente, onde não existe arame farpado e nem arma de fogo, onde as pessoas não ficam desempregadas e a justiça está presente, onde o amor rege os relacionamentos e todos estão conscientes e submissos ao senhorio de Cristo. Ou seja, vale a pena prosseguir com o olhar firme em Jesus, o autor e consumador da nossa fé!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Renovando a nossa esperança para enfrentar os desafios do nosso tempo

Vivemos os finais dos tempos! Parece irônico falar isso após a desastrosa previsão do final do mundo dia 21/12/2012. Lembro-me de ver a chamada de um programa da rede Globo que trazia dicas de como aproveitar o final do mundo, os últimos dias restantes. A ideia era basicamente fazer tudo o que você não tem coragem no dia a dia em função da moralidade, mas frente ao fim eminente e uma ausência de perspectiva de sentido da vida, por que privar-se de suas paixões e vontades? Essa posição revela a essência do espírito da nossa época, o espírito do anticristo, em constante confronto com a vontade de Deus revelada nas Escrituras.
Convido os leitores para uma breve reflexão sobre a segunda vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor, a nossa esperança. A reflexão está base no texto de I Tessalonicenses 4:13-5:11.
Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras.
Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá como ladrão à noite. Quando disserem: "Paz e segurança", então, de repente, a destruição virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão.
Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão.
Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios; pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo.
O contexto da carta
A carta aos tessalonicenses foi uma das cartas mais antigas de Paulo, provavelmente a sua segunda carta, escrita depois da carta aos Gálatas. Uma das possíveis explicações para essa carta ser uma das primeiras do apóstolo se deve a preocupação que ele tinha com a igreja que ele havia contribuído para a sua fundação, juntamente com Silas. Embora Paulo tenha permanecido pouco tempo na cidade, poucos meses ou até mesmo 1 mês, não sabemos ao certo, o seu ministério foi bem frutífero e alguns judeus e muitos gregos abraçaram a fé no evangelho de Jesus Cristo. Porém Paulo e Silas foram estimulados a saírem da cidade por conta da forte oposição dos judeus. Motivado pelas boas notícias que a igreja da cidade permanecia firme e se desenvolvendo, e a preocupado com a formação dos cristãos quanto alguns assuntos controversos e disputados com os judeus, Paulo escreve a carta para afirmar dois pontos doutrinários importantes na fé cristã: 1º Jesus é divino e 2º Jesus voltará no grande e terrível dia do Senhor para julgar toda a terra e completar a salvação do seu povo.
No texto que estamos abordando, Paulo trabalho a questão do final dos tempos, o que a teologia chama de escatologia (o estudo do fim, ou, das últimas coisas). O final dos tempos marca a substituição da era presente por outra vindoura, já inaugurada por Jesus na sua primeira vinda, por meio do reino de Deus, e que será consumada com os novos céus e nova terra, na segunda vinda de Jesus (parusia) para julgar todos os homens de todos os tempos.
Compreendendo a esperança cristã
Para combater a ignorância (falta de conhecimento) dos cristãos em relação ao dia do Juízo e a esperança cristã da ressurreição dos mortos, a vida eterna, é que o apóstolo lembra que não há necessidade de desespero em relação aos que já morreram, os cristãos não precisam viver como os pagãos, mas podemos e devemos ter a firme confiança de que ressuscitaremos assim como o nosso Senhor Jesus, que foi o primeiro, assim também seremos glorificados através de um novo corpo, e este incorruptível.
Um evangelho sem ressurreição é um evangelho sem poder para a salvação daqueles que creem. Sem poder para perdoar pecados, sem poder para trazer a vida eterna; este evangelho não é digno de confiança, pois suas testemunhas (os apóstolos) seriam tidas por mentirosas. Resumindo, o evangelho sem a ressurreição de Cristo, não tem nada a ver com o cristianismo e não passaria de um conjunto de valores morais positivos para a sociedade. Paulo nos lembra de que “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. I Co 15:19”
A impressão que dá é que os cristãos de Tessalônica haviam se esquecido da esperança da ressurreição dos mortos na volta de Jesus. A ideia de salvação que eles tinham estava incompleta, manca. É verdade que a salvação que Jesus trouxe a nós envolve o livramento da culpa e do poder do pecado, ao que na teologia damos o nome de justificação e santificação respectivamente; mas também é verdade que a nossa salvação será consumada com a glorificação do nosso corpo, por meio de um corpo incorruptível, eterno e totalmente livre do pecado. A salvação se completará com a consumação do reino de Deus em toda a terra e com o grande julgamento, a posse definitiva dos novos céus e nova terra, a restauração completa de toda a Criação. Ao se esquecer desta verdade, o cristão se identifica com o pagão na falta do sentido da vida ao contemplar a morte e sua destruição, restando o desespero. Por isso Paulo lembra e os adverte para se consolarem com essa verdade, ou melhor, tragam para as experiências cotidianas a esperança cristã da ressurreição dos mortos.
Parece que a igreja contemporânea por vezes vive situações semelhantes, vivemos como se a nossa esperança não tivesse nada a ver com as nossas atividades diárias, parece que ela nem faz sentido no ritmo de vida que temos, como algo que lembramos apenas na comemoração da Páscoa.
O próprio Senhor Jesus nos ensinou a invocar o reino de Deus na terra, em toda a sua totalidade, assim como ele está nos céus (Mt 6:9), e a volta de Cristo trata exatamente disso, nos fala sobre a consumação da obra de Cristo, uma obra de redenção e restauração em meio ao juízo vindouro. A segunda vinda de Jesus é anunciada nas palavras do próprio Senhor Jesus, nas palavras dos anjos e dos apóstolos:
·      Nas palavras do próprio Jesus: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.  E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (João 14:1-3).
·         Nas palavras dos anjos: Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. (At 1:9-11).
·         Nas palavras dos apóstolos: E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação. (Hb 9:27-28)
A própria carta aos tessalonicenses nos orienta em como trazer essa esperança para a vida cotidiana. Viver a fim de agradar a Deus (4:1) e a vontade de Deus é que vocês sejam santificados (livres do poder do pecado, 4:3), por isso nos esforçamos para ter uma vida tranquila (4:11), refletindo os valores do reino de Deus e proclamando o evangelho até os confins da terra, participando da expansão do reino de Deus, aguardando o retorno de Cristo. Vocês percebem como essa esperança vivificada muda o nosso foco e traz significado para a vida? Paulo continua, lembrando que somos filhos da luz e nossas obras devem ser coerentes com essa identidade (I Ts 5:5). A imagem é de sobriedade, entendendo o tempo que vivemos, e respondendo com qualidade de vida e testemunho contagiante, e para isso 3 elementos, ou 3 virtudes, devem transbordar em nós e em nossa comunidade: a fé, o amor e a esperança (I Ts 5:8).
Bons propósitos para a vida
  1. Vamos recolocar a nossa esperança no lugar certo. Cuidado com o consumismo desenfreado, que acaba achatando a vida e reduzindo tudo ao nosso redor a esfera econômica, como por exemplo, a felicidade, a segurança, os sonhos. Irmãos, não nos conformemos com este século, mas renovemos a nossa mente com a esperança do retorno de Cristo, pois esta é verdadeira e poderosa para nos levar a experiência da vida com contentamento e abundante.
  2. Deixemos que esse pensar nas coisas do alto nos leve a uma vida mais simples, sem ostentação ou exageros, e que a consequência direta dessa nova realidade possa ser a generosidade no socorro aos necessitados, e assim, transbordar do amor de Cristo nos nossos relacionamentos.
  3. Vamos nos ocupar mais com a obra de Deus, da promoção do reino de Deus em nossos ambientes cotidianos. A começar pelas nossas casas e desembocando nas outras esferas da vida.