Vivemos os finais dos tempos! Parece irônico falar isso
após a desastrosa previsão do final do mundo dia 21/12/2012. Lembro-me de ver a
chamada de um programa da rede Globo que trazia dicas de como aproveitar o
final do mundo, os últimos dias restantes. A ideia era basicamente fazer tudo o
que você não tem coragem no dia a dia em função da moralidade, mas frente ao
fim eminente e uma ausência de perspectiva de sentido da vida, por que
privar-se de suas paixões e vontades? Essa posição revela a essência do
espírito da nossa época, o espírito do anticristo, em constante confronto com a
vontade de Deus revelada nas Escrituras.
Convido os leitores para uma breve reflexão sobre a segunda
vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor, a nossa esperança. A reflexão está base no
texto de I Tessalonicenses 4:13-5:11.
Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto
aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm
esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará,
mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a
vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que
ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois,
dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio
Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados
juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim
estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas
palavras.
Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos
escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá
como ladrão à noite. Quando disserem: "Paz e segurança", então, de
repente, a destruição virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo
nenhum escaparão.
Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse
dia os surpreenda como ladrão.
Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos
da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos
atentos e sejamos sóbrios; pois os que dormem, dormem de noite, e os que se
embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos
sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da
salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a
salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que,
quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso,
exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo.
O contexto da carta
A carta aos tessalonicenses foi uma das cartas mais
antigas de Paulo, provavelmente a sua segunda carta, escrita depois da carta
aos Gálatas. Uma das possíveis explicações para essa carta ser uma das
primeiras do apóstolo se deve a preocupação que ele tinha com a igreja que ele
havia contribuído para a sua fundação, juntamente com Silas. Embora Paulo tenha
permanecido pouco tempo na cidade, poucos meses ou até mesmo 1 mês, não sabemos
ao certo, o seu ministério foi bem frutífero e alguns judeus e muitos gregos
abraçaram a fé no evangelho de Jesus Cristo. Porém Paulo e Silas foram
estimulados a saírem da cidade por conta da forte oposição dos judeus. Motivado
pelas boas notícias que a igreja da cidade permanecia firme e se desenvolvendo,
e a preocupado com a formação dos cristãos quanto alguns assuntos controversos
e disputados com os judeus, Paulo escreve a carta para afirmar dois pontos doutrinários
importantes na fé cristã: 1º Jesus é divino e 2º Jesus voltará no grande e
terrível dia do Senhor para julgar toda a terra e completar a salvação do seu
povo.
No texto que estamos abordando, Paulo trabalho a questão
do final dos tempos, o que a teologia chama de escatologia (o estudo do fim,
ou, das últimas coisas). O final dos tempos marca a substituição da era
presente por outra vindoura, já inaugurada por Jesus na sua primeira vinda, por
meio do reino de Deus, e que será consumada com os novos céus e nova terra, na
segunda vinda de Jesus (parusia) para
julgar todos os homens de todos os tempos.
Compreendendo a esperança
cristã
Para combater a ignorância (falta de conhecimento) dos
cristãos em relação ao dia do Juízo e a esperança cristã da ressurreição dos
mortos, a vida eterna, é que o apóstolo lembra que não há necessidade de
desespero em relação aos que já morreram, os cristãos não precisam viver como
os pagãos, mas podemos e devemos ter a firme confiança de que ressuscitaremos
assim como o nosso Senhor Jesus, que foi o primeiro, assim também seremos
glorificados através de um novo corpo, e este incorruptível.
Um evangelho sem ressurreição é um evangelho sem poder
para a salvação daqueles que creem. Sem poder para perdoar pecados, sem poder
para trazer a vida eterna; este evangelho não é digno de confiança, pois suas
testemunhas (os apóstolos) seriam tidas por mentirosas. Resumindo, o evangelho
sem a ressurreição de Cristo, não tem nada a ver com o cristianismo e não
passaria de um conjunto de valores morais positivos para a sociedade. Paulo nos
lembra de que “Se a nossa esperança em
Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os
homens. I Co 15:19”
A impressão que dá é que os cristãos de Tessalônica
haviam se esquecido da esperança da ressurreição dos mortos na volta de Jesus.
A ideia de salvação que eles tinham estava incompleta, manca. É verdade que a
salvação que Jesus trouxe a nós envolve o livramento da culpa e do poder do
pecado, ao que na teologia damos o nome de justificação e santificação
respectivamente; mas também é verdade que a nossa salvação será consumada com a
glorificação do nosso corpo, por meio de um corpo incorruptível, eterno e
totalmente livre do pecado. A salvação se completará com a consumação do reino
de Deus em toda a terra e com o grande julgamento, a posse definitiva dos novos
céus e nova terra, a restauração completa de toda a Criação. Ao se esquecer
desta verdade, o cristão se identifica com o pagão na falta do sentido da vida
ao contemplar a morte e sua destruição, restando o desespero. Por isso Paulo
lembra e os adverte para se consolarem com essa verdade, ou melhor, tragam para
as experiências cotidianas a esperança cristã da ressurreição dos mortos.
Parece que a igreja contemporânea por vezes vive
situações semelhantes, vivemos como se a nossa esperança não tivesse nada a ver
com as nossas atividades diárias, parece que ela nem faz sentido no ritmo de
vida que temos, como algo que lembramos apenas na comemoração da Páscoa.
O próprio Senhor Jesus nos ensinou a invocar o reino de
Deus na terra, em toda a sua totalidade, assim como ele está nos céus (Mt 6:9),
e a volta de Cristo trata exatamente disso, nos fala sobre a consumação da obra
de Cristo, uma obra de redenção e restauração em meio ao juízo vindouro. A segunda
vinda de Jesus é anunciada nas palavras do próprio Senhor Jesus, nas palavras
dos anjos e dos apóstolos:
· Nas
palavras do próprio Jesus: Não se turbe o
vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há
muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos
lugar. E, quando eu for e vos preparar
lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou,
estejais vós também. (João 14:1-3).
·
Nas
palavras dos anjos: Ditas estas palavras,
foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus
olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que
dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões
galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi
assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. (At 1:9-11).
·
Nas
palavras dos apóstolos: E, assim como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim
também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de
muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.
(Hb 9:27-28)
A própria carta aos tessalonicenses nos orienta em como
trazer essa esperança para a vida cotidiana. Viver a fim de agradar a Deus (4:1) e a vontade de Deus é que vocês sejam santificados (livres do poder
do pecado, 4:3), por isso nos esforçamos
para ter uma vida tranquila (4:11), refletindo os valores do reino de Deus
e proclamando o evangelho até os confins da terra, participando da expansão do
reino de Deus, aguardando o retorno de Cristo. Vocês percebem como essa
esperança vivificada muda o nosso foco e traz significado para a vida? Paulo
continua, lembrando que somos filhos da luz e nossas obras devem ser coerentes
com essa identidade (I Ts 5:5). A imagem é de sobriedade, entendendo o tempo
que vivemos, e respondendo com qualidade de vida e testemunho contagiante, e
para isso 3 elementos, ou 3 virtudes, devem transbordar em nós e em nossa
comunidade: a fé, o amor e a esperança (I Ts 5:8).
Bons propósitos para
a vida
- Vamos recolocar a nossa esperança no lugar certo. Cuidado com o consumismo desenfreado, que acaba achatando a vida e reduzindo tudo ao nosso redor a esfera econômica, como por exemplo, a felicidade, a segurança, os sonhos. Irmãos, não nos conformemos com este século, mas renovemos a nossa mente com a esperança do retorno de Cristo, pois esta é verdadeira e poderosa para nos levar a experiência da vida com contentamento e abundante.
- Deixemos que esse pensar nas coisas do alto nos leve a uma vida mais simples, sem ostentação ou exageros, e que a consequência direta dessa nova realidade possa ser a generosidade no socorro aos necessitados, e assim, transbordar do amor de Cristo nos nossos relacionamentos.
- Vamos nos ocupar mais com a obra de Deus, da promoção do reino de Deus em nossos ambientes cotidianos. A começar pelas nossas casas e desembocando nas outras esferas da vida.
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