Apocalipse 3:14-22
O livro de apocalipse escrito pelo apóstolo João é provavelmente o mais difícil de se interpretar, e paradoxalmente o mais aterrorizante e esperançoso livro da Bíblia. “Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo” Ap 1:3. A felicidade acompanhará aquele que não é apenas ouvinte mas também praticante, aquele que é sábio e constrói sua casa sobre a rocha, aquele que não engana a si mesmo (Tg 1:22, Mt 7:24-27). Conseqüentemente, o pavor há de acompanhar aqueles que lêem as palavras desta profecia e a ignoram.
Reconheço minha dificuldade para interpretar as profecias de apocalipse e meu total desinteresse em desvendar todos os mistérios envoltos nas imagens presentes ao longo da narração; entretanto, meu interesse pela leitura e entendimento da mensagem central dessas profecias é inversamente proporcional, as sentenças de Jesus me atraem e soa como um refrigério para minha alma, e acredito que para todo cristão genuíno ocorre o mesmo sentimento ante essas revelações do Cristo glorificado.
A carta à igreja de Laodicéia muito me chama atenção. E não é pra menos, uma vez que Cristo desenha uma cena na qual ele bate a porta da igreja para que possa entrar e ceiar com seus supostos seguidores. Àquele que deve ser cultuado está fora da assembléia! Duas imagens me vêem a mente, a degringolada igreja de Laodicéia do final do século I à qual as profecias foram proferidas, e em segundo plano, mas não obstante, a igreja cristã atual que está às vésperas da volta de Cristo.
Um olhar sensato e desprovido de ufanismo nos levará a um diagnóstico rápido e certeiro, essa confusão que encontramos e que muitos denominam como cristianismo descreve perfeitamente a religiosidade humana, entretanto parte nenhuma tem com a Igreja, o Corpo de Cristo. Não há mais intensidade em nossos relacionamentos, somos superficiais e relapsos no trato com o próximo, quanto mais em relação ao Senhor, a quem não vemos. Somos mornos e estamos a ponto de sermos vomitados da boca do Senhor e pronto para ser pisado pelos homens (Mt 5:13).
A Palavra do Senhor há muito já foi substituída por livros de auto-ajuda, a fé que professamos é oriunda de uma teologia triunfalista que procura trazer o céu para a terra e não espera mais por novos céus e nova terra (ap 21:1), exigimos a prosperidade ainda que para sustentá-la tenhamos que sacrificar o evangelho de Jesus, o hedonismo reina em nossas comunidades e o individualismo é a marca das bestas. Julgamos estar rico, mas a pobreza e a nudez nos assolam.
O Senhor Jesus está à porta e nos chama. Não sejamos duros de coração. Que haja sensatez, e assim reconheçamos que estamos desprovidos de salvação, graça, amor e do próprio Cristo. Que o bom juízo nos leve ao reconhecimento de nossa fraqueza, a compreensão da suficiência na graça de Jesus e não em nossa religiosidade.