O conceito de graça presente no cristianismo é único, e o diferencia de todas as demais religiões. O favor imerecido de Deus não deixa espaço para o mérito humano, pelo contrário, todos estão em pé de igualdade e carentes de Deus, mortos em seus pecados e delitos. Como pode um morto fazer algo em favor de sua salvação?
A porta de entrada ao cristianismo e toda a sustenção da vida cristã se deve a graça de Deus. João Calvino, o reformador do século XVI disse – ‘Ora, pode-se perguntar: como o homem recebe a salvação que lhe é oferecida pelas mãos divinas? Eis minha resposta: pela instrumentalidade da fé. Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos despe de todo louvor pessoal, então se segue que a salvação não procede de nós’.
O que se pede ao homem é tão somente que creia. Jesus advertiu em inúmeras oportunidades aos seus discípulos quanto ao perigo da incredulidade, o perigo do conhecimento dissociado da vida. A incoerência do conhecimento que não acrescenta à vida é um caminho que nos leva a lugar nenhum.
Dessa forma o autor de Hebreus lembrou a seus irmãos que “de fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam. Hebreus 11:6” Ou seja, a fé é o instrumento que Deus nos deu para participar de seus benefícios a nós, sem ela continuamos anos luz distantes da graça de Deus, ainda que ela esteja à nossa disposição.
‘A fé, pois, põe diante de Deus um homem vazio, para que o mesmo seja enchido com as bênçãos de Cristo’ (João Calvino).
O livro de Hebreus também vai apresentar uma definição sobre fé. ‘Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem’ (Hebreus 11:1). Esse conceito de fé nos ajuda a orientar a fé de duas formas. A primeira é que fomos abençoados com toda a sorte de bênção espiritual em Jesus Cristo (Ef 2:3), provamos do favor de Deus, fomos agraciados pela obra redentora de Jesus em nosso intermédio, e isto é fato, ainda que não vejamos. A segunda é que Deus intervém em nosso favor, já desfrutamos os benefícios da obra redentora de Jesus, mas aguardamos o dia no qual ela será completa em nós.
A oração é o meio pelo qual comunicamos a Deus nossa fé nEle. O momento que nos apresentamos a Ele como copos vazios na expectativa de sermos cheios das bênçãos de Cristo. O apóstolo Tiago menciona em sua carta a oração da fé, na qual apresentamos a Deus a nossa carência e ficamos em prontidão, na expectativa de sua ação em nosso favor, sem duvidar (Tg 1:5-8). O mesmo Tiago também nos adverte sobre a fé fingida e escusa, daquele que não compreendeu a graça de Deus – ‘pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres (Tg 4:3)’.
A oração da fé nos possibilita manter os olhos em Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb12:2), a manter firme a nossa confissão. Pois temos um sumo sacerdote que possibilita achegarmos a Deus, ao seu trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hb 4:14-16).
Logo, a fé muito se diferencia da superstição e da magia. Ela é fundamentada na obra de Cristo, não é orientada pelas nossas efêmeras paixões, mas pelo evangelho, e deposita toda a sua eficiência em Jesus. A fé não deixa o cristão nas mãos da sorte e do acaso, mas enche a alma de esperança na convicção de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28), um Deus que intervém na história.
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