segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pais e filhos vivendo unidos no temor do Senhor

Publicado anteriormente como Honra teu pai e tua mãe (27/04/2010)
“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.
Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.
E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.”
Efésios 6:1-4
Paulo inicia o capítulo seis de Efésios fazendo uma referência aos mandamentos que o Senhor deu a Israel por intermédio do profeta Moisés. “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá (Êxodo 20:12)”. O quinto mandamento do decálogo de Moisés é o primeiro que traz consigo uma promessa. É também um mandamento positivo, que nos diz a postura (modo de pensar e agir) diante dos nossos pais, é algo agradável ao Senhor, e sabedoria e vida para aquele que obedece.

Esse é um mandamento que envolve o relacionamento com o próximo, o exercício do amor ao próximo. A atenção deste mandamento é direcionada ao relacionamento com a comunidade que Deus criou, Israel. 

A realidade de nosso amor para com Deus é demonstrada pela realidade de nosso amor para com nossos semelhantes.

A promessa aqui se refere à vida do Judeu na terra prometida, mas sem duvida podemos espiritualizá-la sem esvaziar o seu conteúdo. A promessa refere-se a uma vida abundante (Jesus disse: Eu vim para que tenham vida abundante -João 10:10), sábia, que glorifica ao Senhor e prepara nossa chegada para a Nova Jerusalém.

“Honra teu pai e tua mãe, como te ordenou o Senhor ,o teu Deus, para que tenhas longa vida e tudo te vá bem na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá (Deuteronômio 5:16).”

Moisés vai repetir o mandamento para o povo de Israel novamente no livro de Deuteronômio, há quase 40 anos após o recebimento da Lei. Por que será? Prestes a conquistar à terra prometida e deixar o deserto, a vida nômade, a geração é nova e precisa ser ensinada e lembrada das instruções do Senhor, de como Ele quer que o homem viva.

Interessante que os após 40 anos, aqueles que eram filhos hoje são pais. O mandamento é repetido sem errata, sem alteração do dever do homem em honrar seus pais. O que nos lembra que a lei do Senhor é perfeita, tanto que foi escrita em pedras para que não haja decomposição, alteração alguma. A lei do Senhor é perfeita e não se altera com as mudanças do mundo, das gerações. Elas não são relativas, mas um referencial absoluto e seguro para a humanidade.

Há um acréscimo que não altera ou modifica a instrução, mas que nos faz compreendê-la melhor. “...e tudo te vá bem...” a instrução é para o nosso bem, para uma vida plena.

Esse mandamento tem um impacto direto na sociedade, o comportamento do indivíduo dentro da unidade básica da sociedade (a família) tem uma ressonância que extrapola a esfera individual e afeta positivamente a comunidade.

O rei Salomão, ao refletir sobre o quinto mandamento e suas implicações na vida, conclui que a sabedoria do filho é ouvir e agir de acordo com as instruções dos pais, isso lhe fará bem, o privará de muitos dissabores (dor de cabeça, males) e o orientará a uma vida honesta. “Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe. Eles serão um enfeite para a sua cabeça, um adorno para o seu pescoço (Provérbios 1:8-9).”

Jesus também vai ressaltar a importância deste quinto mandamento, e exortar o homem a não desprezá-lo (Mt 15:4 e 19:19, Mc 7:10, Lc 18:20).

Por fim, o apóstolo Paulo ao fazer referência ao quinto mandamento vai acrescentar uma orientação aos pais: “E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.(Efésios 6: 4).”

Deus através da própria natureza deu autoridade aos pais para cuidarem e educarem os filhos, em submissão a Deus. Os pais devem ser zelosos na educação dos filhos, inclusive corrigindo quando necessário. A omissão dos pais nas suas tarefas é reprovável diante do Senhor e trará grandes transtornos para a família e também para a sociedade. Por outro lado, Paulo nos lembra que o abuso de poder por parte dos pais em nada contribui para a formação dos filhos, só traz revolta e confusão. 

Vale a pena lembrar que a relação dos pais e filhos, em todos os seus aspectos, está sujeita ao senhorio de Cristo. O dever dos filhos é obedecer aos pais no Senhor. E o dever dos pais é criar os filhos e corrigi-los no temor do Senhor. Isso é a vontade do Senhor, é perfeito, e permite o desenvolvimento saudável do homem.

O problema da quebra dos laços de família entre os pais e filhos reflete numa decadência moral, em libertinagem, o filho inexperiente e imaturo age de maneira imprudente sem limites a fim de satisfazer suas vontades.

Podemos então entender que honrar os pais refere-se ao respeito, a submissão e a obediência aos mesmos.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Andando com os irmãos no temor do Senhor

“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.
Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor.
E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”
Efésios 5:15-21
Nesta altura da carta, o apóstolo Paulo deixou algumas verdades bem claras que valem à pena serem lembradas.

1. Deus reconciliou consigo todas as coisas por meio Jesus Cristo;
2. Jesus Cristo é Senhor de todas as coisas;
3. A salvação é graça de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo e não por obras;
4. O Espírito Santo de Deus é derramado sobre todo aquele que crê em Jesus Cristo, Ele é o penhor (garantia) da nossa salvação;
5. Por meio da obra redentora de Jesus, todo aquele que crê é adotado como filho de Deus;
6. Deus predestinou seu povo para andar em boas obras, na promoção do bem;
7. A Igreja é o corpo de Cristo, por isso mesmo ela é una, santa, católica e apostólica;
8. A unidade da igreja só é possível porque Deus derramou seu amor (ágape);
9. A cada cristão Deus derramou dons para a edificação do corpo de Cristo;
10. O cristão é chamado para ser semelhante a Jesus.

Por tudo isso que acabamos de lembrar, é que o autor nos adverte a ter o máximo de cuidado no modo de viver. Duas opções estão à nossa frente. Ou agir como um tolo, indiferente ao evangelho de Deus anunciado a nós. Ou como um sábio, discernindo os tempos e caminhando em comunhão com o Senhor.

A conseqüência direta dessa nossa opção de vida também são duas. Ou nos tornaremos insensatos, destituído de todo bom senso, vivendo como alguém embriagado pelo álcool, sem controle ou domínio próprio. Ou procuraremos com todo afinco conhecer a vontade do Senhor, pois nada há de mais precioso que encontrar o sentido da vida.

O verdadeiro cristão é aquele que procura uma vida cheia do Espírito Santo, que encontrou na comunhão com Deus o sentido da vida. Esta realidade não se limita há uma experiência transcendente individual, mas também comunitária. Uma vida regada de temor a Deus, completamente imersa nessa dinâmica da redenção da vida e dos relacionamentos, louvando a Deus e sujeitando-se ao próximo, completamente livre da ingratidão.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Chamados para ser semelhantes a Jesus

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças.
Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles.
Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor.
E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz.
Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará.” Efésios 5:1-14
O livro de Gênesis relata a criação do mundo, como Deus chamou a existência àquilo que não existia. Na ordem da criação, o homem é tido como a coroa da criação (Salmo 8). Deus fez questão em criá-lo a Sua imagem e semelhança.

A origem da existência humana está no seu Criador (Gn 1:26). Essa cosmovisão muda tudo, traz consigo propósito e significado a existência, norteia a vida e os relacionamentos. 

Além de nos revelar a origem, as Escrituras falam sobre nossa essência - Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn 1:26)... fomos criados em distinção dos demais seres vivos, fomos criados semelhantes a Deus. A referência não é física, mas racional, moral, espiritual e social. E quais as implicações desta verdade?
Somos seres relacionais, criados para nos relacionar com Deus, com o próximo e com a natureza. Diferentemente dos demais seres vivos, somos dotados de capacidade intelectual e consciência de discernir entre o certo e errado, o que nos torna moralmente responsáveis em nossos relacionamentos.

O que Paulo está tratando neste texto de Efésios é exatamente isto, o homem foi vocacionado para ser imitador de Deus, viver e andar como o próprio Deus, a Sua imagem e semelhança. Porém, o pecado trouxe uma desordem a esta condição do homem, promovendo um estado de rebelião e indiferença quanto à sua vocação.

O autor evoca nossa vocação existencial através da obra redentora de Jesus Cristo, que redime o homem. A nossa identidade de filhos de Deus, àquilo que Jesus conquistou na cruz, é o que nos possibilita viver essa nova realidade de comunhão transcendente com o Criador, internando e externando o amor de Deus (ágape), um amor real e operoso, inspirado no amor do próprio Senhor Jesus por nós. Àquilo que vimos e experimentamos é o que temos condição de reproduzir, e está diretamente relacionado à nossa identidade.

Uma lista de maldades, incompatível com a nossa identidade de filhos de Deus são apresentadas por Paulo. Essa lista não tem a intenção de ser exaustiva, mas tão somente mostrar que a sociedade não é para nós parâmetro de vida ou moralidade, não devemos nos contentar com uma vida desgraçada e alheia a Deus. Jesus Cristo é o nosso modelo de vida, nosso parâmetro de moralidade.

‘Nem sequer nomeie entre vós’; ‘não são próprias aos santos’; ‘ninguém vos engane’; ‘não participem dessas coisas’; ‘a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência’; ‘não sejam cúmplices’; ‘aquilo que eles fazem em oculto, até o mencionar é vergonhosos’. Essas expressões de advertência, que acompanham a lista de maldades presentes na nossa sociedade, nos alertam o quão distante devemos viver do pecado.

Viver de forma ignorante, indiferente a Deus e dominado pelo pecado é como viver dormindo, no mais profundo sono, como andar em trevas sem direção. A metáfora utilizada pelo autor que se opões a este estado de escuridão e sombrio é a própria luz. Despertados do sono pela luz (referência ao conhecimento de Jesus Cristo), andemos como tal, em novidade de vida, provando e promovendo a bondade, a justiça e a verdade.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Despindo-se do velho homem

“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.
Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.
Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo. Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.”
Efésios 4:17-32
A descrição que Paulo faz do homem alienado de Deus é alguém que está distante da própria humanidade. Ele vive na vaidade de seus pensamentos, soberbo e cheio de si mesmo, alienado de Deus, uma vida teimosa em ser aquilo para o qual ele não foi criado – ser coisa, viver no caos. Esse homem perdeu a vergonha e se entregou aos vícios, não tem mais controle de si mesmo. Insensível, não tem aspiração da eternidade, não é solidário, não busca o bem, a muito já se entregou a toda sorte de maldade.

Carlos Drumond de Andrade também faz uma descrição pessimista do homem moderno que deixou de ser homem.
Com que inocência demito-me de ser eu
que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
...
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
trecho do poema ‘Eu, Etiqueta’

A este homem caído e desumano, o evangelho chega com uma proposta poderosa de humanização, o resgate em sua integralidade da condição de homem. A transformação proposta é semelhante à metamorfose, uma mudança completa de mente, um despir-se diante de Cristo. Não há dúvida que esta obra não é fruto de um exercício meramente intelectual, mas uma obra do Espírito Santo. O Espírito renova a mente e concede graça, para que a verdadeira humanidade possa ser experimentada.

O velho homem que percebe a sua real condição e se desnuda diante de Cristo, alcança misericórdia. Este homem nu, nascido de novo, é destinado à retidão. Sedento e faminto por justiça ele é saciado (Mt. 5:6) a medida que é revestido desta nova vida, com conseqüências diretas em seu cotidiano.

Este homem novo é capaz de dominar suas paixões, confrontar a mentira com a verdade, não deixar ser vencido pelo mal e promover o bem para o outro, ainda que sofra prejuízo. Paulo está falando desta nova possibilidade de vida, na qual as obras da nossa natureza pecaminosa (Gl 5:17-25) são substituídas pelo bom trato para com o próximo, ao ponto de trazer a referência da bondade e do perdão de Deus para o nosso dia a dia.