E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe.Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude.E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me.Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-lhes: Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.Eles ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser salvo?Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos.Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.
Para refletirmos sobre esse encontro histórico, registrado por 3 evangelistas (Mateus 19:16-30, Marcos e Lucas 18:24-30), eu gostaria de convidá-los a olhar individualmente para os 3 personagens dessa história. E para facilitar a leitura, cada postagem abordará um dos personagens.
O Jovem rico.
A narrativa que acabamos de ler nos diz que um homem se aproximou correndo diante de Jesus e se ajoelhou diante dele. O texto pouco nos diz sobre ele, a não ser que era dono de muitas propriedades. Na narração de Lucas (18:18) percebemos que ele era um homem importante, e no evangelho de Mateus que este homem era jovem e rico (19:20,22).
Não era uma situação comum um homem se prostrar diante de um rabino (ou mestre), muito menos usar a palavra bom para se referir a alguém, este era um atributo reservado a Deus e não aos homens, e qualquer sujeito com instrução na cultura judaica saberia disso. Apesar de já ter ouvido a fama de Jesus, suas obras, poder e autoridade com que as executavam, muito nos estranha o fato deste homem agir dessa forma, ainda mais sendo alguém importante, nobre em Israel. Isto nos dá indício de que algo perturbava sua alma.
Numa cena anterior, Jesus disse: ‘quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele’ (10:15). Com certeza este homem ouviu essas palavras de Jesus e é provável que sua alma se angustiasse com as incertezas que possuía sobre o reino de Deus. O que fazer para possuir a vida eterna? Como entrar neste reino?
Ao ouvir Jesus respondendo sua pergunta com os mandamentos, e todos relacionados ao trato com o próximo, o homem de prontidão responde que há muito tempo os conhecia e observava. Assim como sua aproximação de Jesus revelava certa afobação, um ato não muito refletido, sua resposta seguiu o mesmo caminho. Eu já conheço tudo isso Jesus e me exercito constantemente para cumpri-lo. O que mais me falta? Eu vou herdar o reino de Deus ou falta realizar alguma coisa para possuí-lo?
Ao responder a pergunta que estava no seu coração, pela segunda vez, Jesus revelou ao jovem que pouco ele conhecia sobre si mesmo. Ele não cumpria todos os mandamentos. Havia algo que ele achava possuir, mas que na verdade possuía sua alma. Ao tomar conhecimento desta verdade, e se deparar escravo das riquezas, adorador de Mamon, idólatra, dando falso testemunho e com um coração cheio de cobiça, o homem percebeu o quanto estava enganado acerca de si. O seu pecado estava oculto a si mesmo, mas agora fora posto a luz diante do bom mestre.
“Diante de ti puseste as nossas iniqüidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos (Sl 90:8).”
Toda vez que nos achegarmos com honestidade diante de Jesus iremos reconhecer o nosso estado real. Nossas misérias serão expostas, pois a luz resplandece sobre as trevas. A escuridão de nossa alma é facilmente desvendada por Jesus, nossa moralidade falida não pode enganá-Lo, pois Seus olhos penetram no nosso íntimo e são hábeis para discernir os intentos do nosso coração.
A narração nos leva a concluir uma tragédia. O jovem que pela sua posição não tinha o hábito de ser contrariado, saiu triste e cabisbaixo. Atrás de aprovação recebeu em troca um convite ao arrependimento, a oportunidade de verdadeiramente ser livre. Porém ele não correu para se ajoelhar novamente diante de Jesus, agora sim de forma conscientemente. O jovem amou mais as riquezas deste mundo, onde a traça e a ferrugem a corroem (Mt 6:19-20). Ele endureceu o seu coração e não deu ouvido a voz de Jesus, persistiu na idolatria, a substituir o verdadeiro Deus pela ilusão das riquezas.
Irmãos, hoje, se ouvirdes a voz de Jesus, não endureçais o vosso coração (Hb 3:15 ).