segunda-feira, 28 de março de 2011

O encontro do jovem rico com Jesus - parte I

E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe.
Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude.
E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me.
Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.
Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-lhes: Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
Eles ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser salvo?
Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.
Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos.
Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.


Para refletirmos sobre esse encontro histórico, registrado por 3 evangelistas (Mateus 19:16-30, Marcos e Lucas 18:24-30), eu gostaria de convidá-los a olhar individualmente para os 3 personagens dessa história. E para facilitar a leitura, cada postagem abordará um dos personagens.

O Jovem rico. 
A narrativa que acabamos de ler nos diz que um homem se aproximou correndo diante de Jesus e se ajoelhou diante dele. O texto pouco nos diz sobre ele, a não ser que era dono de muitas propriedades. Na narração de Lucas (18:18) percebemos que ele era um homem importante, e no evangelho de Mateus que este homem era jovem e rico (19:20,22).

Não era uma situação comum um homem se prostrar diante de um rabino (ou mestre), muito menos usar a palavra bom para se referir a alguém, este era um atributo reservado a Deus e não aos homens, e qualquer sujeito com instrução na cultura judaica saberia disso. Apesar de já ter ouvido a fama de Jesus, suas obras, poder e autoridade com que as executavam, muito nos estranha o fato deste homem agir dessa forma, ainda mais sendo alguém importante, nobre em Israel. Isto nos dá indício de que algo perturbava sua alma.

Numa cena anterior, Jesus disse: ‘quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele’ (10:15). Com certeza este homem ouviu essas palavras de Jesus e é provável que sua alma se angustiasse com as incertezas que possuía sobre o reino de Deus. O que fazer para possuir a vida eterna? Como entrar neste reino?

Ao ouvir Jesus respondendo sua pergunta com os mandamentos, e todos relacionados ao trato com o próximo, o homem de prontidão responde que há muito tempo os conhecia e observava. Assim como sua aproximação de Jesus revelava certa afobação, um ato não muito refletido, sua resposta seguiu o mesmo caminho. Eu já conheço tudo isso Jesus e me exercito constantemente para cumpri-lo. O que mais me falta? Eu vou herdar o reino de Deus ou falta realizar alguma coisa para possuí-lo?

Ao responder a pergunta que estava no seu coração, pela segunda vez, Jesus revelou ao jovem que pouco ele conhecia sobre si mesmo. Ele não cumpria todos os mandamentos. Havia algo que ele achava possuir, mas que na verdade possuía sua alma. Ao tomar conhecimento desta verdade, e se deparar escravo das riquezas, adorador de Mamon, idólatra, dando falso testemunho e com um coração cheio de cobiça, o homem percebeu o quanto estava enganado acerca de si. O seu pecado estava oculto a si mesmo, mas agora fora posto a luz diante do bom mestre.
 “Diante de ti puseste as nossas iniqüidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos (Sl 90:8).” 
Toda vez que nos achegarmos com honestidade diante de Jesus iremos reconhecer o nosso estado real. Nossas misérias serão expostas, pois a luz resplandece sobre as trevas. A escuridão de nossa alma é facilmente desvendada por Jesus, nossa moralidade falida não pode enganá-Lo, pois Seus olhos penetram no nosso íntimo e são hábeis para discernir os intentos do nosso coração.

A narração nos leva a concluir uma tragédia. O jovem que pela sua posição não tinha o hábito de ser contrariado, saiu triste e cabisbaixo. Atrás de aprovação recebeu em troca um convite ao arrependimento, a oportunidade de verdadeiramente ser livre. Porém ele não correu para se ajoelhar novamente diante de Jesus, agora sim de forma conscientemente. O jovem amou mais as riquezas deste mundo, onde a traça e a ferrugem a corroem (Mt 6:19-20). Ele endureceu o seu coração e não deu ouvido a voz de Jesus, persistiu na idolatria, a substituir o verdadeiro Deus pela ilusão das riquezas.
 Irmãos, hoje, se ouvirdes a voz de Jesus, não endureçais o vosso coração (Hb 3:15 ).

segunda-feira, 21 de março de 2011

O exemplo de José frente a tentatção

José era atraente e de boa aparência, e, depois de certo tempo, a mulher do seu senhor começou a cobiçá-lo e o convidou: "Venha, deite-se comigo! "
Mas ele se recusou e lhe disse: "Meu senhor não se preocupa com coisa alguma de sua casa, e tudo o que tem deixou aos meus cuidados.
Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus?"
As tentações e provações fazem parte da vida cristã. A Bíblia diz que as tentações são resultados das concupiscências dos nossos olhos, dos nossos desejos por algo que não seja correto. Já as provações são decorrentes de situações adversas que nos alcançam, e dependendo da firmeza da nossa fé iremos enfrentá-las com sobriedade resistindo o mal e o sofrimento. O Cristão precisará encarar essas situações com certa freqüência durante a sua vida.

O livro de Tiago nos dá uma dica de como enfrentar o mal. Ele nos encoraja a resistir o diabo de frente, a resistir o mal. Porém resistir algo não significa ficar parado encarando tal coisa, ainda mais quando o assunto é a tentação, a recomendação é que nos comportemos como José, fugindo dela.

Existe mais um conselho bíblico que está diretamente relacionado com a nossa reflexão, e ele diz respeito ao exercício do autoconhecimento. Precisamos desenvolver uma consciência correta daquilo que somos, (Rm 12:3) sem cair no orgulho, e muito menos na autopiedade. De um lado é preciso ter o conhecimento de que nenhuma tentação nos sobrevirá que estará além das nossas forças, e por outro lado, aquele que está em pé deve tomar cuidado para não cair (I Co 10).

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sabedoria para viver bem

“Senhor, tu és o nosso refúgio, sempre, de geração em geração.
Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus.
Fazes os homens voltarem ao pó, dizendo: "Retornem ao pó, seres humanos! "
De fato, mil anos para ti são como o dia de ontem que passou, como as horas da noite.
Como uma correnteza, tu arrastas os homens; são breves como o sono; são como a relva que brota ao amanhecer; germina e brota pela manhã, mas, à tarde, murcha e seca.
Somos consumidos pela tua ira e aterrorizados pelo teu furor.
Conheces as nossas iniqüidades; não escapam os nossos pecados secretos à luz da tua presença.
Todos os nossos dias passam debaixo do teu furor; vão-se como um murmúrio.
Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!
Quem conhece o poder da tua ira? Pois o teu furor é tão grande como o temor que te é devido.
Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.
Volta-te, Senhor! Até quando será assim? Tem compaixão dos teus servos!
Satisfaze-nos pela manhã com o teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes.
Dá-nos alegria pelo tempo que nos afligiste, pelos anos em que tanto sofremos.
Sejam manifestos os teus feitos aos teus servos, e aos filhos deles o teu esplendor!
Esteja sobre nós a bondade do nosso Deus Soberano. Consolida, para nós, a obra de nossas mãos; consolida a obra de nossas mãos!” Salmo 90
A autoria do Salmo 90 é atribuída a Moisés. Esta oração de Moisés tem como objetivo alcançar um coração sábio e aprender a viver com qualidade. Uma vida que não se restringe ao momento presente, mas carrega em si a expectativa de uma condição de vida que também se estenderá para o futuro.
O Salmo 90 tem muito a nos ensinar sobre como alcançar a sabedoria para viver bem. Algumas deduções possíveis a respeito do texto:
  1. Existe um Deus e Ele é eterno. Por isso mesmo é uma torre forte, um refúgio para todos que nele confiam. Um referencial absoluto para todos os momentos.
  2. Esse Deus é o criador de todas as coisas, Ele dá forma e ordem a tudo quanto existe. A a possibilidade da vida está nEle.
  3. O Criador é relacional, tem uma história de revelação e comunhão com o homem ao longo da história. A experiência de transcendência se dá pela intencionalidade deste Deus em ser presente na sua criação.
  4. O contraste entre o Criador e o homem é absurdo e desproporcional. A eternidade de Deus versus a transitoriedade do homem. O conhecimento deste Deus traz luz à realidade do homem.
  5. Em função desse conhecimento cabe ao leitor ponderar, avaliar e discernir (ou contar) os seus dias para alcançar essa sabedoria para viver.
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.”(Salmo 90:12)
Avaliando e ponderando a vida frente à revelação do próprio Deus é possível encontrar vida completa e com qualidade. É possível substituir a decepção e a ansiedade pelo contentamento e a esperança.
Disse Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.” João 10:10-11
Viver com gratidão é experimentar o presente como uma dádiva de Deus, sem tentar agarrá-lo. Eu posso encarar o passado com realismo e o presente com esperança. (Guilherme de Carvalho)
Esta qualidade de vida não se limite ao momento presente, mas é carregada de sentido e significado, e se estende ao futuro. A expectativa da glória de Deus que há de se revelar aos seus filhos (os justos que o Salmo se refere).
“Aos teus servos apareçam as tuas obras, e a seus filhos, a tua glória. Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos.” (v.16-17)
Pascal, um matemático, físico e filósofo do século XVII compreendeu muito bem essa verdade. De maneira simples e curta ele concluiu a relação do homem com o seu Criador.
“Os homens são felizes com Deus e infelizes sem Deus” Pascal

segunda-feira, 7 de março de 2011

A armadura de Deus

“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.”
Efésios 6:10-18
O final da carta de Efésios nos traz a dimensão correta desta nova realidade de vida em Cristo Jesus. Agora, a partir de uma experiência genuína de arrependimento e fé, rendendo-se ao senhorio de Jesus, o cristão é desafiado a viver neste embate com um mundo que se opõe fortemente ao senhorio de Jesus, um mundo que jaz no maligno.

Paulo deixa claro que este confronto não é contra pessoas, mas contra idéias e filosofias, contra as artimanhas de Satanás, que procura destruir tudo aquilo que Deus criou. No livro de Gênesis, a expressão utilizada para descrever a qualidade da obra do Criador foi – “e viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gn 1:31)”. A oposição do adversário é para converter tudo àquilo que é bom em mau, trazer destruição e morte.

Por isso somos advertidos a tornarmos mais fortes, a resistir essa obra perversa. Porém essa força de resistência não provém de nós, mas é fruto de uma caminhada estreita com o próprio Deus. A comunhão com Deus é a única maneira para resistir às armadilhas infernais, que procuram nos remover desta nova condição de filhos de Deus.

Este enfrentamento de forças é terrível, porém em nenhum momento a obra de Deus estará ameaçada pelo Diabo. Deus não disputa força com ninguém, sua glória e poder não são comparáveis. Por isso mesmo está ao nosso dispor a armadura de Deus.

Note que a armadura de Deus é uma série de elementos que compõem a espiritualidade cristã, são eles: a verdade, a justiça, a fé, a salvação, a palavra de Deus e a oração. A disciplina espiritual nos leva a um estado de prontidão para permanecer em Cristo e discernir os nossos dias, inclusive com uma percepção mais integradora do reino de Deus.