Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na
vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as
ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu
me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha
fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. Habacuque
3:16-17
O profeta Habacuque,
contemporâneo de outros profetas, como por exemplo, Jeremias, foi um daqueles
que viu e lamentou a iniqüidade e a rebelião de seu povo contra Deus. O tempo
que o profeta viveu era desesperador, ele gritou contra a violência, a iniqüidade
e a opressão estavam diante seus olhos, e a justiça de tão frouxa já não era
mais encontrada, enquanto isso, o perverso cercava cada vez mais o justo (Hc
1:1-4).
A resposta de Deus a
essas queixas do profeta foi ainda mais surpreende. O império babilônico que
crescia e se fortalecia, iria se levantar contra Judá, arrasar a sua terra e
levar cativos os seus moradores. Perplexo, o profeta protesta o fato de Deus se
valer de uma nação opressora, injusta e idolatra para disciplinar o Seu próprio
povo (Judá) (Hc 2:1). A resposta que ele obtém é que Deus não abandonaria Judá e a restauraria, mas enquanto isso, o justo viveria pela fé (Hc 2:4), isto
é, Seu povo viveria confiando na providência e nas promessas de Deus ainda que
fosse estrangeiro numa terra estranha e hostil ao monoteísmo judaico.
A justiça de Deus não
tardaria, e no seu devido tempo (kairós) Ele interviria mudando a sorte de
Judá. Na oração de Habacuque (capítulo 3) é incorporada a visão da grande
salvação de Deus que se aproximaria, veja algumas imagens de Deus agindo em
favor do seu povo:
“Deus vem... (v.3)”
“Deus sacode as nações (v.6)”
“Os caminhos de Deus são eternos (v.6)”
“Deus anda montado nos seus carros de vitória
(v.8)”
“A aljava de Deus está farta de flechas (v.9)”
“Na indignação de Deus, Ele marcha pela terra
(v. 12)”
“Deus sai para o salvamento do seu povo
(v.13)”
O profeta concluiu
que nos tempos difíceis que viriam, ele deveria esperar pelo “dia do Senhor”,
um dia de angústia que romperia contra o império que oprimia e contendia contra
Judá (Hc 3:16). E essa fé deveria se desdobrar em confiança na providência de
Deus, contentamento no Senhor ainda que os dias fossem ruins, e por fim coragem,
fortaleza para atravessar os dias de opróbrio e não se conformar com a maldade
e apostasia que os cercavam (Hc 3:17-19).
Em certo sentido, a
situação da Igreja muito se assemelha com o povo de Judá no cativeiro da Babilônia.
Duas semelhanças me vêm à mente, a primeira é que nós também estamos num lugar
que não é o nosso destino final, vivemos num mundo no qual não coadunamos dos
mesmos valores e militamos por um Reino que se caracteriza como uma
contra-cultura. Em segundo lugar aguardamos também o grande “dia do Senhor”, no
qual Jesus voltará para consumar o seu Reino na terra e completar a nossa
salvação. Logo, as palavras desse livro são desafiadoras para nós.
Jesus nos ensinou na
oração sacerdotal (Jo 17), que uma vez redimidos pelo evangelho, nós recebemos
uma missão neste mundo. E essa missão envolve conformar mente e vida ao
evangelho de Jesus Cristo, e em oposição ao mundo e seus valores devemos
comunicar os valores do reino de Deus, como testemunhas deste Reino que se
aproxima. O desafio está em entender que essa tarefa será exercida num ambiente
hostil ao cristianismo, e para isso a nossa fé precisará se desdobrar em
confiança, contentamento e coragem, assim como Habacuque profetizou.
A boa notícia é que
temos uma lista de testemunhas que conseguiram bom êxito nesta tarefa incumbida
a nós, o que nos enche de ânimo. No período do cativeiro na Babilônia, os mais
notáveis foram Daniel, Hananias, Misael, Azarias, Ester, Neemias e Esdras. Já
no cristianismo, a lista é extensa, nesses dois mil anos são milhares de
milhares que obtiveram bom êxito, pessoas que passaram entre nós e das quais o
mundo não era digno, e por onde andaram deixaram a fragrância do conhecimento
de Jesus Cristo. A oração que nos cabe hoje é a mesma do profeta: “Senhor, aviva a tua obra (entre nós)”
(Hc 3:2).