Quando pensamos em testemunho
cristão, muitas vezes nos vem à mente a pregação do evangelho, e não estamos
errados quanto a isso, porém apenas pensar nisso está incompleto. Alguns
cristãos, mais esclarecidos nas Escrituras conseguem ir mais além e relacionar
a proclamação do evangelho com a coerência de vida, ou seja, a fé que eu
professo em Jesus deve ser observada nas minhas decisões diárias. Até conseguem
recitar a célebre frase de Francisco de Assis: “pregue sempre! Se necessário,
use palavras”. Ainda existe um terceiro grupo, que vai um pouco mais além, e
acredita que o testemunho cristão além de envolver proclamação do evangelho com
palavras e a vida da testemunha, envolve ainda a promoção do reino de Deus
inaugurado a nós por meio da obra de Jesus Cristo nosso Senhor. Parece que
estamos avançando, mais vamos entender melhor o que seria tudo isso e o que
está em jogo quando falamos em testemunho cristão.
A primeira coisa que está em
jogo quando falamos em testemunho cristão é que Deus escolheu se revelar. Deus falou! Isso é ponto pacífico entre
os cristãos. A Bíblia é a auto-revelação de Deus a humanidade. O que isso
implica a nós? Deus falou e nós ouvimos sua voz, por isso testemunhamos. Ou
seja, afirmamos que a revelação de Deus nas Escrituras é digna de confiança,
atestamos sua veracidade.
A segunda coisa que é de
grande valor para o testemunho cristão é entender
o livro de Gênesis. Os primeiros 11 capítulos nos falam sobre a natureza de
Deus, o papel do cosmos criado e o papel da humanidade como seu reflexo na
gerência de tudo. Acima de tudo, porém, nos mostra como um mundo classificado
por Deus como bom veio a degradar-se cada vez mais por causa do pecado. O livro
ainda nos conta o projeto de redenção de Deus à humanidade, iniciado através da
aliança feita com Abraão e a formação de um povo seu, separado e dedicado ao
único Deus.
Vejamos o que os dois
primeiros capítulos de Gênesis nos revelam:
- Deus se apresentou como Criador de todas as coisas. O reino de Deus foi estabelecido. Ele é quem concede a vida e a orienta. Deus é relacional!
- O homem foi criado a Sua imagem e semelhança, em distinção do restante da criação, a revelação traz a perspectiva da humanidade como um ser relacional, racional e moralmente responsável.
- Ao homem foi dada a função de vice-rei ou regente da criação, ou seja, representante de Deus na criação. Existe um mandato cultural, ou seja, era para o homem e mulher exercerem suas prerrogativas reais governando sobre o cosmos, desenvolvendo-o e simultaneamente sustentando-o. Ou seja, o domínio do homem estava diretamente relacionado à produção cultural.
- O homem não deveria fazer isso sozinho. Ele deveria estar em submissão a Deus (mandato espiritual), em parceria com seu semelhante (aqui há um destaque para o casamento e a família) um mandato social e com o restante da criação (mandato cultural).
A tudo isso Deus viu que era
bom. O seu reino estava estabelecido!
O
que deu errado?
O capítulo 3 de Gênesis vai descrever a
queda, o pecado e a rebelião que se instalou no reino de Deus dando origem
assim a um reino parasita, denominado de reino das trevas que milita em
oposição a Deus.
A
resposta de Deus ao mal. Mas Deus não só esboçou uma reação à
injustiça que se impregnou na criação, como, executou a justiça por meio de
Jesus Cristo. As Escrituras denominam a obra de Jesus como uma obra de
reconciliação, por meio da qual Deus trouxe reconciliação ao mundo, esse é o
tema do Novo Testamento inteiro (Rm 5:11, 11,5; 2 Co 5:18-19, Cl 1:21-22 e 1 Pe
2:9-10).
Isso significa que o
testemunho cristão envolve o período de arrependimento que Deus nos deu. Esse
período é o intervalo entre a ascensão de Jesus e a sua volta para concluir a
restauração de todas as coisas – a criação como um todo (At 3:19-21).
Mas
o que envolve na prática o testemunho cristão?
A
partir desta breve reflexão podemos notar que o testemunho cristão engloba a
palavra reconciliação, ou seja, agora nós que fomos reconciliados com Deus
exercemos esse ministério (tarefa) da reconciliação. Envolve uma submissão
completa ao Senhorio de Jesus Cristo em todas as esferas da vida, iniciamos
reconhecendo a nossa falência moral diante do Salvador Jesus e nos apropriando
de sua obra, desenvolve-se através da obediência aos ensinos de Jesus
(espiritual, social e cultural) e concluí-se na perseverança e esperança cristã
do retorno de Cristo e a restauração de todas as coisas.
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