quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Esperança e perseverança

Reflexão sobre II Pedro 3:1-18
 Esperança
O cristianismo nos fala sobre esperança. É isso mesmo, na fé cristã não há espaço para o conformismo com o mal, com a injustiça, como tudo o que está estragado e não funciona mais direito. A expectativa que Jesus trouxe para os seus seguidores é que algo novo e superior nos espera, um rompimento total com a realidade do pecado e o seu sofrimento.
Porém, a novidade que nos aguarda envolve toda a criação e não apenas a humanidade. Essa novidade é chamada pelo apóstolo Pedro de restauração ou renovação de tudo àquilo que outrora fora criado por Deus e era muito bom. Já o apóstolo João nos fala sobre uma nova terra e um novo céu, sobre uma cidade que desce do céu (Ap 21:1-5), o que logo nos traz à mente a oração do Pai Nosso – venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (Mt 6:9-13).
Vejamos alguns versos em específico que demonstram essa esperança:

Até chegar o tempo em que todas as coisas serão renovadas (restauradas). (At 3:21, discurso de Pedro)
Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. (II Pe 3:12)
Então vi um novo céu e uma nova terra. (Ap 21:1, visão de João)

Aquilo que é impossível ao homem, restaurar todas as coisas que foram manchadas pelo pecado e voltar o estado da natureza a era anterior à queda do homem, Deus promete fazer. E sua obra já está em curso! E nós não podemos ficar de fora, somos convocados a nos arrepender e voltarmos a Deus, e começar hoje a viver segundo a sua vontade e participar dessa obra maravilhosa.

Perseverança
Ao mesmo tempo em que olhamos para o futuro glorioso que nos aguarda, devemos viver o presente com perseverança. É isso que o apóstolo Pedro está nos advertindo, como Paulo já havia afirmado outrora “E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos.” Rm 13:11. Isso significa que devemos viver em sobriedade, de forma coerente com a experiência que professamos.
Vamos entender um pouco sobre os três tempos da grande salvação operada por Jesus Cristo:

  • Fui salvo (passado) da penalidade do pecado imediatamente ao confessar Jesus Cristo, alcançando assim a reconciliação com Deus, e isso pela fé. Ou seja, eu fui justificado por Jesus Cristo.
  • Estou sendo salvo (presente) do poder do pecado progressivamente por meio da atuação do Espírito Santo, alcançando assim a libertação, e isso pelo relacionamento de amor com Deus. Ou seja, Eu estou sendo santificado.
  • Serei salvo (futuro) da presença do pecado finalmente no retorno de Jesus Cristo, alcançando assim a glória perdida, e isso pela esperança na obra perfeita de Deus. Ou seja, serei glorificado.

É isso que Pedro está nos exortando. Não se deixe levar por aqueles que rejeitam o evangelho de Jesus, mas permaneçam perseverantes, ainda que as circunstâncias sejam adversas. Vale lembrar que essa espera não é passiva, mas antes promovendo a vontade de Deus, seu Reino, seus valores, lembrando que os novos céus e a nova terra será um rompimento com o pecado, mas não com a nossa identidade e história.

Por isso vale a pena considerar:
A restauração de todas as coisas se sucederá da mesma forma como foi na criação e no dilúvio (3:5-6). Quando ninguém estiver esperando(3:10)!
O dia do Senhor envolverá restauração para a Criação, juntamente com aqueles que guardaram a fé, e destruição para aqueles que rejeitaram o evangelho (3:10-14)!
O cumprimento da promessa do Senhor parece demorar, e isso porque ele tem estendido esse período de arrependimento para que muitos provem a salvação. Mas não se engane sua volta não tarda (3:9)!

Recomendação final:
  1. Acautelai-vos das pessoas imorais para que não caírem da sua posição segura (3:17).
  2. Continuem a crescer na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo (3:18).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Mais que um modelo de oração, uma proposta de vida

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! Mateus 6:9-13”

A oração do ‘Pai Nosso’ ensinada por Jesus está registrada em dois evangelhos, Mateus (6:9-13) e Lucas (11:1-4), no primeiro ela está inserida no meio do Sermão do Monte, quando Jesus trata a questão da piedade dos seus discípulos. Já no livro de Lucas, a situação é outra, e um dos seus discípulos ao ver Jesus orando pede que os ensine a orar, e Jesus ensina a mesma oração, porém mais concisa.
Algumas pessoas dizem que “a oração revela a nossa teologia”, aquilo que cremos. E a oração do ‘Pai Nosso’ proposta por Jesus não é diferente, ela não somente revela a teologia de Jesus, mas como ele deseja que os seus discípulos vivessem.  E para entendermos bem isso, é necessário termos uma noção do contexto que Jesus ensina os seus seguidores.
Existem algumas evidências internas no ‘Sermão do Monte’ que nos mostra que a piedade judaica consistia em 3 atos de justiça: a concessão de esmolas, a oração e a prática do jejum. O ensino de Jesus vem no sentido de corrigir os desvios praticados pelos judeus, uma vez que a disposição do coração e as expectativas estavam equivocadas. A referência de hipocrisia que Jesus se utiliza é aquela praticada pelos fariseus, que se preocupavam tanto com o exercício de uma religiosidade externa, de aparência, e se esqueciam do essencial. Esse caminho levava os líderes religiosos a um distanciamento cada vez maior de Deus, embora fossem considerados piedosos nas suas respectivas comunidades.
Ainda temos algumas evidências externas ao texto, uma vez que o contexto histórico no início do primeiro século é de um domínio do Império Romano sobre Israel, que refletia diretamente na política e na economia do Estado. Além disso, havia uma influência da cultura grega muito forte, que envolvia não apenas a língua dominante, mas também filosófica e uma religião pagã bastante atrativa. Como os judeus eram os únicos monoteístas na face da Terra até então, a pressão filosófica e religiosa sobre os judeus era intensa. A religião pagã estava centrada no conceito da existência de vários deuses que lutavam entre si pela hegemonia, corrompidos como os homens e inflamados por todo tipo de vício presente na humanidade, esses deuses eram responsáveis pelos favores e pelos males que sobreviam ao homem. Para alcançar o favor de um deus pagão era necessário convencê-lo deste bem, isso envolviam relações de trocas e boa capacidade de persuasão.
Ao ensinar seus seguidores a não seguir o caminho dos gentios, Jesus se opõe fortemente a essa imagem distorcida de Deus que muitos haviam adquirido pelo convívio com outros povos. Jesus está desfazendo essa concepção de um deus egoísta que muitos tinham equivocadamente, e apontado para a realidade de um Deus relacional e amoroso. A expectativa de Jesus é que seus discípulos possam substituir esta relação utilitária por outra pessoal, através da reconciliação com Deus oferecida pela vida do próprio Senhor Jesus Cristo.
A oração ensinada por Jesus não é uma fórmula ou um mantra dado por Deus para se obter algum benefício, longe disso, a proposta dela é ser orientadora, ela nos ensina a orar e buscar que a proposta de vida cristã se torne uma realidade no cotidiano. Na verdade, a oração do ‘Pai Nosso’ tem o propósito de ser conciliadora entre o conhecimento dos ensinos de Jesus Cristo e a prática de vida, não nos deixando se conformar com as tendências, modismo e o espírito da nossa geração, e fortalecendo a nossa identidade de filhos de Deus.
Pai nosso que estás nos céus (v.9)
Não é preciso atrair a benevolência de Deus. Ele nos amou!
Deus é pessoal e amoroso (imagem da paternidade). Deus é grande, habita nos céus, detém autoridade e poder. Amor paternal e poder celestial – combina amor que ordena e poder capaz de realizar. Stott
Santificado seja o teu nome (v.9)
Que Deus seja conhecido por todos! Reconhecimento e invocação da glória de Deus.
Nome santificado, tratado santo, a devida honra lhe seja dada em nossas próprias vidas, na igreja e no mundo.
Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (v.10)
Manifestação de sua justiça e paz na terra, aos homens a quem quer bem.
Submissão à vontade de Deus, a Sua centralidade na vida e na história. Antes de pedir é preciso conhecer, reconhecer e desejar a vontade de Deus.
Quando a nossa vontade começa a responder ao chamado de Deus, a vontade de Deus está sendo cumprida perfeitamente em nós. Como ela é realizada nos céus, deve também ocorrer na terra.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (v.11)
Reconhecer que Deus cuida de nós e confiar nosso ser a esta realidade. Lançar diante dEle nossas aflições (1 Pd 5:7).
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores (v.12)
Uma via dupla, a vontade de Deus se manifestando na terra. Homens sendo reconciliados com Deus por meio da obra de Jesus Cristo, e homens se reconciliado consigo mesmo, também por meio de Jesus.
E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal {pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém}! (v.13)
Os pecadores fazem essa petição porque eles confiam em Deus e não confiam em si mesmos.
A proteção é a bênção de Deus, indispensáveis para a nossa vida em abundância. Ele é poderoso para nos guardar!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O que Deus espera de mim?



Geralmente, oramos em busca da benção de Deus para os planos do nosso coração. Porém, quantas vezes perguntamos a Deus qual a direção dEle para as nossas vidas? Segue uma breve reflexão sobre a importância de procurar o conhecimento da vontade de Deus e se submeter a ela. Essa atitude irá nos livrar da tolice de uma vida arrogante frente as demandas da vida.

“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” Carta de Tiago 4:13-17

 O contexto do texto bíblico
O autor da carta foi Tiago, irmão de Jesus. E juntamente com os apóstolos Pedro e João, ele era um líder da igreja. É provável que a carta de Tiago tenha sido uma das primeiras porções do Novo Testamento a serem escritas. E o motivo da carta é simples, a igreja que nascera começava a apresentar os primeiros problemas de relacionamento e testemunho, somando a isso, os crentes sofriam forte oposição e perseguição dos judeus. Diante deste quadro, o pastor Tiago viu-se na obrigação de identificar e corrigir a comunidade, bem como encorajá-la a enfrentar as provações que os sobreviam com paciência lembrando que seriam recompensados pelo Senhor.

Entendo o texto bíblico
A oposição à fé cristã era tão forte que não seria de se estranhar que os crentes cedessem a elas ou procurassem viver uma fé secularizada e individualista. Não dá pra dizer que a nossa situação hoje é mais ou menos difícil que aquela experimentada pelos primeiros cristãos, e o ponto não é esse, a questão é que a verdadeira vida cristã não aceita um fé desengajada com as demandas da vida, incoerente, e restrita ao campo da religião (secularizada).
O texto em destaque adverte os cristãos que não é possível viver como os pagãos, nós não somos senhores do nosso destino, cada um que assumiu o compromisso de seguir a Jesus, submeteu-se automaticamente ao Senhorio de Cristo.
A crítica de Tiago não é a riqueza, mas sim a arrogância daqueles que deixam Deus e seus valores fora de seu estilo de vida. Como planejadores autoconfiantes, eles decidem aonde vão e quando irão, quanto tempo vão permanecer, e têm absoluta certeza que obterão lucro desta operação. O autor adverte os leitores: Vós não sabeis o que sucederá amanhã? Que é a vossa vida?
Tiago responde as mesmas perguntas que fez, comparando a nossa vida com uma neblina, ele nos lembra de que ela é frágil e transitória. Diante esse quadro, ao invés de uma atitude autoconfiante e dirigida para este mundo, as pessoas devem sujeitar todos os seus planos e esperança à vontade do Senhor. Ou seja, a vontade do Senhor (que é boa, perfeita e agradável) deve ser reconhecida como a condição pela qual o cristão deve encarar a própria vida e seus planos específicos.
A Bíblia nos mostra alguns exemplos de Paulo, sujeitando seus planos a Deus, vejamos alguns:

At 18:21  Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso.
Rom 1:9-10  Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos.
1Co 4:18 - 19  Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos.

Mas cuidado! Tiago não está enfatizando a constante verbalização da fórmula ‘se o Senhor quiser’, a qual pode se tornar facilmente um chavão e uma receita sem sentido, mas antes a uma sincera consideração do controle que Deus tem sobre o mundo e sua vontade específica para nós.

Algumas inferências dessa revelação bíblica para a nossa vida:
1. Deus não vai abençoar aquilo que Ele já amaldiçoou! O amor ao mundo é inimizade a Deus (Tg 4:4). Em outras palavras, precisamos levar a vida a sério. Não é possível passar a perna em Deus, se tudo o que queremos é benefício próprio e enganar os outros, acabaremos inimigos de Deus. Por isso, o que Deus espera de nós é renuncia (o discípulo de Jesus precisa negar-se a si mesmo, Mt 16:24), uma vez que Deus resisti aos soberbos e dá graça aos humildes (ver Tiago 4:6, reforçando o ensino de Jesus no evangelho de Mateus capítulo 23).
2. O nosso coração é enganoso. Cuidado com aquilo que supomos ser a vontade de Deus, quando esta convicção está meramente sustentada por um sentimento interior e subjetivo, não encontrando sustentação e coerência com a Bíblia.
3. Viktor Frankl, um psicanalista judeu que viveu os horrores do campo de concentração nos adverte no seu livro ‘Em busca de sentido’ que a pergunta certa frente à vida, não é ‘o que eu espero de Deus?’, mas sim ‘o que Deus espera de mim?’. Essa percepção de Frankl está em conformidade com o ensino de Tiago, ‘se o Senhor permitir’, pois Ele é o Senhor e tem seus planos para nós.