quarta-feira, 24 de abril de 2013

É preciso aprender a perder



Desde aquele momento Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia.Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: "Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá! "Jesus virou-se e disse a Pedro: "Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens".
Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a encontrará.Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?
Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um de acordo com o que tenha feito. 
Mateus 16:21-27


Num mundo que estimula a ganância e a insatisfação; numa sociedade individualista que procura e defende seus direitos em detrimento do coletivo, que não respeita os limites da comunidade; o produto só pode ser um homem que procura vantagens e privilégios a qualquer custo, que busca o melhor negócio possível com toda a sua alma e idolatra o lucro.

É pra esse homem que está entorpecido nos seus pecados que Jesus faz o convite mais inesperado: segue-me, renuncie tudo o que você tem, deixe sua família, doe sua riqueza aos pobres, abra mão do seu olho que o faz pecar, entregue sua vida, não peque mais, não ame as coisas que estão no mundo... pois doravante eu farei de você pescador de homens, filho de Deus, amigo de Deus, povo de Deus, membro da família de Deus com muitos irmãos.

Realmente as palavras de Jesus não combinam com o espírito do nosso século, com a tendência do mundo, com o curso do pecador. Jesus veio trazer redenção para aquele que está perdido, e isso envolve todo o indivíduo, não apenas uma área da vida, mas tudo o que somos. Jesus resgata a nossa humanidade e dignidade, e isso envolve todo o nosso ser. A redenção de Jesus envolve uma profunda e completa mudança de mente, hábitos, propósitos e maneira de se relacionar com o próximo e a criação. Jesus nos chama por inteiro, e não apenas uma parte da nossa vida.

Se ainda não ficou claro, veja a parábola que Jesus contou sobre o reino de Deus. “O reino de Deus também é como um comerciante de joias que busca as melhores pérolas. Um dia, encontra a pérola perfeita e imediatamente vende tudo o que possui para comprá-la.” Mateus 13:45-46. O que a parábola de Jesus nos conta é que seguir a Jesus e participar do reino de Deus envolve tudo o que somos, e implica necessariamente numa renúncia da vida outrora ignorante a cerca dos preceitos de Deus.

Queridos irmãos, precisamos aprender a perder, abrir mão, parar de roer o osso. Nós precisamos aprender a ter prejuízo. Em alguns casos, ainda que seja lícito o nosso direito, precisamos aprender a perdoar, entregar a nossa veste, oferecer a outra face, andar mais uma milha, não entrar em litígio com o irmão, não escandalizar o fraco na fé, ceder a vez... e assim por diante.

O mundo não vai mudar se não começar por nós. Os nossos políticos não serão honestos, nossos governantes preocupados com as desigualdades, nossos juízes em promover a justiça, nossos profissionais em prestar um serviço com excelência... porque no final das contas ninguém está preocupado com o outro, mas sim com seus próprios interesses. Nós recebemos a missão de sermos a luz do mundo e o sal da terra, para que os homens vendo a nossa boa obra glorifiquem a Deus. Mas se perdemos o sabor não serviremos para mais nada, apenas para ser jogado no lixo, viver à margem com um testemunho do evangelho marginal e indiferente ao mundo.

O nosso padrão é o próprio Senhor Jesus, que não compadeceu de si próprio, mas deixou sua glória de lado, humilhou-se por nós. E através da sua perda obtivemos vida. Você deseja seguir a Jesus? Pare de compadecer de si mesmo, de se auto justificar, abra mão da sua vida, consagre-se ao Senhor por completo e caminhe em obediência à vocação que dEle recebemos (fazer discípulos), ainda que isso nos seja custoso e envolva perdas.

Lembre que Deus não fica nos devendo nada, que no mundo teremos aflições, mas que a mesma vitória que Jesus obteve nós teremos também, que não precisamos andar ansioso por nada, pois Ele é o provedor daqueles que buscam o seu Reino em primeiro lugar, que a promessa de Jesus a seus seguidores é vida com qualidade e mais rica que qualquer outra, e que por fim receberemos a vida eterna.

Em algumas situações as renúncias que serão exigidas de nós estarão relacionadas com a coerência da nossa vida, com a nossa integridade em obedecer ao Senhor, como nos embates diários que enfrentamos: obras da carne x obras do Espírito; andar na Luz x andar nas trevas; amar a Deus x amar o mundo. Por outro lado, noutras situações as perdas estarão relacionadas ao mal presente no mundo por causa do pecado e que nos afetará com a permissão de Deus: como perda de saúde/morte; bens materiais; emprego; amigos/familiares). As perdas são inevitáveis, a gente não consegue reter nem o nosso próprio fôlego de vida, quanto mais às demais coisas que envolvem a nossa existência.

Precisamos lembrar

1.      Precisamos lembrar que coisas ruins acontecem também às pessoas boas, enquanto nossa salvação não for completada continuaremos sujeitos aos efeitos do pecado. Embora não mais condenados e dominados pelo pecado, ainda sofremos com o seu assédio e presença em toda espécie de relacionamento. Entretanto, precisamos lembrar que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, a fim de sermos parecidos com Jesus Cristo (Rm 8:28-29). E isto não é fatalismo, mas confiança no Deus amoroso e misericordioso que reina sobre toda a Terra.

2.      Precisamos lembrar que a noção comunitária não deve estar sujeita aos prazeres e caprichos do indivíduo, mas que fomos convocados para compartilhar as boas novas do evangelho, a fazer discípulos, a socorrer o necessitado, a praticar a hospitalidade e o acolhimento, a combater toda forma de injustiça e perversidade que subjulga e desumaniza o próximo... Enfim, todos receberam a convocação de amar o próximo e isso envolve serviço e dedicação.

3.      Precisamos lembrar que nos encontramos numa situação de peregrinos, e que a nossa esperança está nos novos céus e na nova terra, aonde a traça não corrói o nosso tesouro, a morte está morta, o pecado não está mais presente, onde não existe arame farpado e nem arma de fogo, onde as pessoas não ficam desempregadas e a justiça está presente, onde o amor rege os relacionamentos e todos estão conscientes e submissos ao senhorio de Cristo. Ou seja, vale a pena prosseguir com o olhar firme em Jesus, o autor e consumador da nossa fé!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Renovando a nossa esperança para enfrentar os desafios do nosso tempo

Vivemos os finais dos tempos! Parece irônico falar isso após a desastrosa previsão do final do mundo dia 21/12/2012. Lembro-me de ver a chamada de um programa da rede Globo que trazia dicas de como aproveitar o final do mundo, os últimos dias restantes. A ideia era basicamente fazer tudo o que você não tem coragem no dia a dia em função da moralidade, mas frente ao fim eminente e uma ausência de perspectiva de sentido da vida, por que privar-se de suas paixões e vontades? Essa posição revela a essência do espírito da nossa época, o espírito do anticristo, em constante confronto com a vontade de Deus revelada nas Escrituras.
Convido os leitores para uma breve reflexão sobre a segunda vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor, a nossa esperança. A reflexão está base no texto de I Tessalonicenses 4:13-5:11.
Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras.
Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá como ladrão à noite. Quando disserem: "Paz e segurança", então, de repente, a destruição virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão.
Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão.
Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios; pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo.
O contexto da carta
A carta aos tessalonicenses foi uma das cartas mais antigas de Paulo, provavelmente a sua segunda carta, escrita depois da carta aos Gálatas. Uma das possíveis explicações para essa carta ser uma das primeiras do apóstolo se deve a preocupação que ele tinha com a igreja que ele havia contribuído para a sua fundação, juntamente com Silas. Embora Paulo tenha permanecido pouco tempo na cidade, poucos meses ou até mesmo 1 mês, não sabemos ao certo, o seu ministério foi bem frutífero e alguns judeus e muitos gregos abraçaram a fé no evangelho de Jesus Cristo. Porém Paulo e Silas foram estimulados a saírem da cidade por conta da forte oposição dos judeus. Motivado pelas boas notícias que a igreja da cidade permanecia firme e se desenvolvendo, e a preocupado com a formação dos cristãos quanto alguns assuntos controversos e disputados com os judeus, Paulo escreve a carta para afirmar dois pontos doutrinários importantes na fé cristã: 1º Jesus é divino e 2º Jesus voltará no grande e terrível dia do Senhor para julgar toda a terra e completar a salvação do seu povo.
No texto que estamos abordando, Paulo trabalho a questão do final dos tempos, o que a teologia chama de escatologia (o estudo do fim, ou, das últimas coisas). O final dos tempos marca a substituição da era presente por outra vindoura, já inaugurada por Jesus na sua primeira vinda, por meio do reino de Deus, e que será consumada com os novos céus e nova terra, na segunda vinda de Jesus (parusia) para julgar todos os homens de todos os tempos.
Compreendendo a esperança cristã
Para combater a ignorância (falta de conhecimento) dos cristãos em relação ao dia do Juízo e a esperança cristã da ressurreição dos mortos, a vida eterna, é que o apóstolo lembra que não há necessidade de desespero em relação aos que já morreram, os cristãos não precisam viver como os pagãos, mas podemos e devemos ter a firme confiança de que ressuscitaremos assim como o nosso Senhor Jesus, que foi o primeiro, assim também seremos glorificados através de um novo corpo, e este incorruptível.
Um evangelho sem ressurreição é um evangelho sem poder para a salvação daqueles que creem. Sem poder para perdoar pecados, sem poder para trazer a vida eterna; este evangelho não é digno de confiança, pois suas testemunhas (os apóstolos) seriam tidas por mentirosas. Resumindo, o evangelho sem a ressurreição de Cristo, não tem nada a ver com o cristianismo e não passaria de um conjunto de valores morais positivos para a sociedade. Paulo nos lembra de que “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. I Co 15:19”
A impressão que dá é que os cristãos de Tessalônica haviam se esquecido da esperança da ressurreição dos mortos na volta de Jesus. A ideia de salvação que eles tinham estava incompleta, manca. É verdade que a salvação que Jesus trouxe a nós envolve o livramento da culpa e do poder do pecado, ao que na teologia damos o nome de justificação e santificação respectivamente; mas também é verdade que a nossa salvação será consumada com a glorificação do nosso corpo, por meio de um corpo incorruptível, eterno e totalmente livre do pecado. A salvação se completará com a consumação do reino de Deus em toda a terra e com o grande julgamento, a posse definitiva dos novos céus e nova terra, a restauração completa de toda a Criação. Ao se esquecer desta verdade, o cristão se identifica com o pagão na falta do sentido da vida ao contemplar a morte e sua destruição, restando o desespero. Por isso Paulo lembra e os adverte para se consolarem com essa verdade, ou melhor, tragam para as experiências cotidianas a esperança cristã da ressurreição dos mortos.
Parece que a igreja contemporânea por vezes vive situações semelhantes, vivemos como se a nossa esperança não tivesse nada a ver com as nossas atividades diárias, parece que ela nem faz sentido no ritmo de vida que temos, como algo que lembramos apenas na comemoração da Páscoa.
O próprio Senhor Jesus nos ensinou a invocar o reino de Deus na terra, em toda a sua totalidade, assim como ele está nos céus (Mt 6:9), e a volta de Cristo trata exatamente disso, nos fala sobre a consumação da obra de Cristo, uma obra de redenção e restauração em meio ao juízo vindouro. A segunda vinda de Jesus é anunciada nas palavras do próprio Senhor Jesus, nas palavras dos anjos e dos apóstolos:
·      Nas palavras do próprio Jesus: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.  E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (João 14:1-3).
·         Nas palavras dos anjos: Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. (At 1:9-11).
·         Nas palavras dos apóstolos: E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação. (Hb 9:27-28)
A própria carta aos tessalonicenses nos orienta em como trazer essa esperança para a vida cotidiana. Viver a fim de agradar a Deus (4:1) e a vontade de Deus é que vocês sejam santificados (livres do poder do pecado, 4:3), por isso nos esforçamos para ter uma vida tranquila (4:11), refletindo os valores do reino de Deus e proclamando o evangelho até os confins da terra, participando da expansão do reino de Deus, aguardando o retorno de Cristo. Vocês percebem como essa esperança vivificada muda o nosso foco e traz significado para a vida? Paulo continua, lembrando que somos filhos da luz e nossas obras devem ser coerentes com essa identidade (I Ts 5:5). A imagem é de sobriedade, entendendo o tempo que vivemos, e respondendo com qualidade de vida e testemunho contagiante, e para isso 3 elementos, ou 3 virtudes, devem transbordar em nós e em nossa comunidade: a fé, o amor e a esperança (I Ts 5:8).
Bons propósitos para a vida
  1. Vamos recolocar a nossa esperança no lugar certo. Cuidado com o consumismo desenfreado, que acaba achatando a vida e reduzindo tudo ao nosso redor a esfera econômica, como por exemplo, a felicidade, a segurança, os sonhos. Irmãos, não nos conformemos com este século, mas renovemos a nossa mente com a esperança do retorno de Cristo, pois esta é verdadeira e poderosa para nos levar a experiência da vida com contentamento e abundante.
  2. Deixemos que esse pensar nas coisas do alto nos leve a uma vida mais simples, sem ostentação ou exageros, e que a consequência direta dessa nova realidade possa ser a generosidade no socorro aos necessitados, e assim, transbordar do amor de Cristo nos nossos relacionamentos.
  3. Vamos nos ocupar mais com a obra de Deus, da promoção do reino de Deus em nossos ambientes cotidianos. A começar pelas nossas casas e desembocando nas outras esferas da vida.

quarta-feira, 27 de março de 2013

A igreja que deixou de ser Igreja

Ao anjo da igreja em Laodicéia escreva: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus.
Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!  Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.
Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.
Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se. Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.
Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Apocalipse 3:14-22

Quando João escreve as palavras de Jesus à Laodicéia, a última das sete igrejas mencionadas, o final do primeiro século se aproximava. A igreja que havia surgido e se fundamentara sobre a doutrina dos apóstolos não era mais a mesma. Não há nenhum elogio sequer na carta a esta comunidade. Pelo contrário, apenas admoestação para que a igreja se arrependa dos seus maus caminhos.

A expressão que Jesus usou para eles condiz com cristãos nominais – eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta... – observe que a religiosidade era vazia de significado, não envolvia comunhão pessoal com o Senhor Jesus, pois este foi o convite que o próprio Cristo fez a eles – entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

O grande problema dessa igreja era a indiferença, cheios de si não havia mais espaço para o discernimento, o arrependimento, o choro, a confissão. À medida que os dias se passavam, a igreja perdia Jesus de vista.

O que essa mensagem diz a nós hoje?

quarta-feira, 13 de março de 2013

Guarda o teu coração



"Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” (Provérbios 4:23)

O livro de provérbios nos fala sobre sabedoria. E aqui não se pode confundir sabedoria com acúmulo de informações ou especialidade num determinado assunto, mas sim como sabedoria para viver bem, ou seja, capacidade de avaliar as oportunidades que estão diante de nós e a partir daí fazer uma análise crítica (discernimento), realizar escolhas que acrescentarão qualidade para a nossa vida e que estarão em harmonia com a vontade de Deus revelada na Bíblia.

Uma das grandes dicas que o livro de provérbios nos dá é sermos cuidadosos com o nosso coração, dar a atenção devida a ele. Isso porque o coração é aquilo que há de mais profundo, ou central numa pessoa. É no coração que se concentram às disposições verdadeiras que afetam todo o nosso ser, tanto as boas quanto as más. É no coração que se define a quem servimos com a nossa vida, se a Deus ou a um ídolo. As nossas atitudes, palavras e vontades revelam as intenções e motivações do coração (Mt 6:19-21; Mc 7:17-23; Lc 6:43-46).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Esperança e perseverança

Reflexão sobre II Pedro 3:1-18
 Esperança
O cristianismo nos fala sobre esperança. É isso mesmo, na fé cristã não há espaço para o conformismo com o mal, com a injustiça, como tudo o que está estragado e não funciona mais direito. A expectativa que Jesus trouxe para os seus seguidores é que algo novo e superior nos espera, um rompimento total com a realidade do pecado e o seu sofrimento.
Porém, a novidade que nos aguarda envolve toda a criação e não apenas a humanidade. Essa novidade é chamada pelo apóstolo Pedro de restauração ou renovação de tudo àquilo que outrora fora criado por Deus e era muito bom. Já o apóstolo João nos fala sobre uma nova terra e um novo céu, sobre uma cidade que desce do céu (Ap 21:1-5), o que logo nos traz à mente a oração do Pai Nosso – venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (Mt 6:9-13).
Vejamos alguns versos em específico que demonstram essa esperança:

Até chegar o tempo em que todas as coisas serão renovadas (restauradas). (At 3:21, discurso de Pedro)
Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. (II Pe 3:12)
Então vi um novo céu e uma nova terra. (Ap 21:1, visão de João)

Aquilo que é impossível ao homem, restaurar todas as coisas que foram manchadas pelo pecado e voltar o estado da natureza a era anterior à queda do homem, Deus promete fazer. E sua obra já está em curso! E nós não podemos ficar de fora, somos convocados a nos arrepender e voltarmos a Deus, e começar hoje a viver segundo a sua vontade e participar dessa obra maravilhosa.

Perseverança
Ao mesmo tempo em que olhamos para o futuro glorioso que nos aguarda, devemos viver o presente com perseverança. É isso que o apóstolo Pedro está nos advertindo, como Paulo já havia afirmado outrora “E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos.” Rm 13:11. Isso significa que devemos viver em sobriedade, de forma coerente com a experiência que professamos.
Vamos entender um pouco sobre os três tempos da grande salvação operada por Jesus Cristo:

  • Fui salvo (passado) da penalidade do pecado imediatamente ao confessar Jesus Cristo, alcançando assim a reconciliação com Deus, e isso pela fé. Ou seja, eu fui justificado por Jesus Cristo.
  • Estou sendo salvo (presente) do poder do pecado progressivamente por meio da atuação do Espírito Santo, alcançando assim a libertação, e isso pelo relacionamento de amor com Deus. Ou seja, Eu estou sendo santificado.
  • Serei salvo (futuro) da presença do pecado finalmente no retorno de Jesus Cristo, alcançando assim a glória perdida, e isso pela esperança na obra perfeita de Deus. Ou seja, serei glorificado.

É isso que Pedro está nos exortando. Não se deixe levar por aqueles que rejeitam o evangelho de Jesus, mas permaneçam perseverantes, ainda que as circunstâncias sejam adversas. Vale lembrar que essa espera não é passiva, mas antes promovendo a vontade de Deus, seu Reino, seus valores, lembrando que os novos céus e a nova terra será um rompimento com o pecado, mas não com a nossa identidade e história.

Por isso vale a pena considerar:
A restauração de todas as coisas se sucederá da mesma forma como foi na criação e no dilúvio (3:5-6). Quando ninguém estiver esperando(3:10)!
O dia do Senhor envolverá restauração para a Criação, juntamente com aqueles que guardaram a fé, e destruição para aqueles que rejeitaram o evangelho (3:10-14)!
O cumprimento da promessa do Senhor parece demorar, e isso porque ele tem estendido esse período de arrependimento para que muitos provem a salvação. Mas não se engane sua volta não tarda (3:9)!

Recomendação final:
  1. Acautelai-vos das pessoas imorais para que não caírem da sua posição segura (3:17).
  2. Continuem a crescer na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo (3:18).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Mais que um modelo de oração, uma proposta de vida

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! Mateus 6:9-13”

A oração do ‘Pai Nosso’ ensinada por Jesus está registrada em dois evangelhos, Mateus (6:9-13) e Lucas (11:1-4), no primeiro ela está inserida no meio do Sermão do Monte, quando Jesus trata a questão da piedade dos seus discípulos. Já no livro de Lucas, a situação é outra, e um dos seus discípulos ao ver Jesus orando pede que os ensine a orar, e Jesus ensina a mesma oração, porém mais concisa.
Algumas pessoas dizem que “a oração revela a nossa teologia”, aquilo que cremos. E a oração do ‘Pai Nosso’ proposta por Jesus não é diferente, ela não somente revela a teologia de Jesus, mas como ele deseja que os seus discípulos vivessem.  E para entendermos bem isso, é necessário termos uma noção do contexto que Jesus ensina os seus seguidores.
Existem algumas evidências internas no ‘Sermão do Monte’ que nos mostra que a piedade judaica consistia em 3 atos de justiça: a concessão de esmolas, a oração e a prática do jejum. O ensino de Jesus vem no sentido de corrigir os desvios praticados pelos judeus, uma vez que a disposição do coração e as expectativas estavam equivocadas. A referência de hipocrisia que Jesus se utiliza é aquela praticada pelos fariseus, que se preocupavam tanto com o exercício de uma religiosidade externa, de aparência, e se esqueciam do essencial. Esse caminho levava os líderes religiosos a um distanciamento cada vez maior de Deus, embora fossem considerados piedosos nas suas respectivas comunidades.
Ainda temos algumas evidências externas ao texto, uma vez que o contexto histórico no início do primeiro século é de um domínio do Império Romano sobre Israel, que refletia diretamente na política e na economia do Estado. Além disso, havia uma influência da cultura grega muito forte, que envolvia não apenas a língua dominante, mas também filosófica e uma religião pagã bastante atrativa. Como os judeus eram os únicos monoteístas na face da Terra até então, a pressão filosófica e religiosa sobre os judeus era intensa. A religião pagã estava centrada no conceito da existência de vários deuses que lutavam entre si pela hegemonia, corrompidos como os homens e inflamados por todo tipo de vício presente na humanidade, esses deuses eram responsáveis pelos favores e pelos males que sobreviam ao homem. Para alcançar o favor de um deus pagão era necessário convencê-lo deste bem, isso envolviam relações de trocas e boa capacidade de persuasão.
Ao ensinar seus seguidores a não seguir o caminho dos gentios, Jesus se opõe fortemente a essa imagem distorcida de Deus que muitos haviam adquirido pelo convívio com outros povos. Jesus está desfazendo essa concepção de um deus egoísta que muitos tinham equivocadamente, e apontado para a realidade de um Deus relacional e amoroso. A expectativa de Jesus é que seus discípulos possam substituir esta relação utilitária por outra pessoal, através da reconciliação com Deus oferecida pela vida do próprio Senhor Jesus Cristo.
A oração ensinada por Jesus não é uma fórmula ou um mantra dado por Deus para se obter algum benefício, longe disso, a proposta dela é ser orientadora, ela nos ensina a orar e buscar que a proposta de vida cristã se torne uma realidade no cotidiano. Na verdade, a oração do ‘Pai Nosso’ tem o propósito de ser conciliadora entre o conhecimento dos ensinos de Jesus Cristo e a prática de vida, não nos deixando se conformar com as tendências, modismo e o espírito da nossa geração, e fortalecendo a nossa identidade de filhos de Deus.
Pai nosso que estás nos céus (v.9)
Não é preciso atrair a benevolência de Deus. Ele nos amou!
Deus é pessoal e amoroso (imagem da paternidade). Deus é grande, habita nos céus, detém autoridade e poder. Amor paternal e poder celestial – combina amor que ordena e poder capaz de realizar. Stott
Santificado seja o teu nome (v.9)
Que Deus seja conhecido por todos! Reconhecimento e invocação da glória de Deus.
Nome santificado, tratado santo, a devida honra lhe seja dada em nossas próprias vidas, na igreja e no mundo.
Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (v.10)
Manifestação de sua justiça e paz na terra, aos homens a quem quer bem.
Submissão à vontade de Deus, a Sua centralidade na vida e na história. Antes de pedir é preciso conhecer, reconhecer e desejar a vontade de Deus.
Quando a nossa vontade começa a responder ao chamado de Deus, a vontade de Deus está sendo cumprida perfeitamente em nós. Como ela é realizada nos céus, deve também ocorrer na terra.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (v.11)
Reconhecer que Deus cuida de nós e confiar nosso ser a esta realidade. Lançar diante dEle nossas aflições (1 Pd 5:7).
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores (v.12)
Uma via dupla, a vontade de Deus se manifestando na terra. Homens sendo reconciliados com Deus por meio da obra de Jesus Cristo, e homens se reconciliado consigo mesmo, também por meio de Jesus.
E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal {pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém}! (v.13)
Os pecadores fazem essa petição porque eles confiam em Deus e não confiam em si mesmos.
A proteção é a bênção de Deus, indispensáveis para a nossa vida em abundância. Ele é poderoso para nos guardar!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O que Deus espera de mim?



Geralmente, oramos em busca da benção de Deus para os planos do nosso coração. Porém, quantas vezes perguntamos a Deus qual a direção dEle para as nossas vidas? Segue uma breve reflexão sobre a importância de procurar o conhecimento da vontade de Deus e se submeter a ela. Essa atitude irá nos livrar da tolice de uma vida arrogante frente as demandas da vida.

“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” Carta de Tiago 4:13-17

 O contexto do texto bíblico
O autor da carta foi Tiago, irmão de Jesus. E juntamente com os apóstolos Pedro e João, ele era um líder da igreja. É provável que a carta de Tiago tenha sido uma das primeiras porções do Novo Testamento a serem escritas. E o motivo da carta é simples, a igreja que nascera começava a apresentar os primeiros problemas de relacionamento e testemunho, somando a isso, os crentes sofriam forte oposição e perseguição dos judeus. Diante deste quadro, o pastor Tiago viu-se na obrigação de identificar e corrigir a comunidade, bem como encorajá-la a enfrentar as provações que os sobreviam com paciência lembrando que seriam recompensados pelo Senhor.

Entendo o texto bíblico
A oposição à fé cristã era tão forte que não seria de se estranhar que os crentes cedessem a elas ou procurassem viver uma fé secularizada e individualista. Não dá pra dizer que a nossa situação hoje é mais ou menos difícil que aquela experimentada pelos primeiros cristãos, e o ponto não é esse, a questão é que a verdadeira vida cristã não aceita um fé desengajada com as demandas da vida, incoerente, e restrita ao campo da religião (secularizada).
O texto em destaque adverte os cristãos que não é possível viver como os pagãos, nós não somos senhores do nosso destino, cada um que assumiu o compromisso de seguir a Jesus, submeteu-se automaticamente ao Senhorio de Cristo.
A crítica de Tiago não é a riqueza, mas sim a arrogância daqueles que deixam Deus e seus valores fora de seu estilo de vida. Como planejadores autoconfiantes, eles decidem aonde vão e quando irão, quanto tempo vão permanecer, e têm absoluta certeza que obterão lucro desta operação. O autor adverte os leitores: Vós não sabeis o que sucederá amanhã? Que é a vossa vida?
Tiago responde as mesmas perguntas que fez, comparando a nossa vida com uma neblina, ele nos lembra de que ela é frágil e transitória. Diante esse quadro, ao invés de uma atitude autoconfiante e dirigida para este mundo, as pessoas devem sujeitar todos os seus planos e esperança à vontade do Senhor. Ou seja, a vontade do Senhor (que é boa, perfeita e agradável) deve ser reconhecida como a condição pela qual o cristão deve encarar a própria vida e seus planos específicos.
A Bíblia nos mostra alguns exemplos de Paulo, sujeitando seus planos a Deus, vejamos alguns:

At 18:21  Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso.
Rom 1:9-10  Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos.
1Co 4:18 - 19  Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos.

Mas cuidado! Tiago não está enfatizando a constante verbalização da fórmula ‘se o Senhor quiser’, a qual pode se tornar facilmente um chavão e uma receita sem sentido, mas antes a uma sincera consideração do controle que Deus tem sobre o mundo e sua vontade específica para nós.

Algumas inferências dessa revelação bíblica para a nossa vida:
1. Deus não vai abençoar aquilo que Ele já amaldiçoou! O amor ao mundo é inimizade a Deus (Tg 4:4). Em outras palavras, precisamos levar a vida a sério. Não é possível passar a perna em Deus, se tudo o que queremos é benefício próprio e enganar os outros, acabaremos inimigos de Deus. Por isso, o que Deus espera de nós é renuncia (o discípulo de Jesus precisa negar-se a si mesmo, Mt 16:24), uma vez que Deus resisti aos soberbos e dá graça aos humildes (ver Tiago 4:6, reforçando o ensino de Jesus no evangelho de Mateus capítulo 23).
2. O nosso coração é enganoso. Cuidado com aquilo que supomos ser a vontade de Deus, quando esta convicção está meramente sustentada por um sentimento interior e subjetivo, não encontrando sustentação e coerência com a Bíblia.
3. Viktor Frankl, um psicanalista judeu que viveu os horrores do campo de concentração nos adverte no seu livro ‘Em busca de sentido’ que a pergunta certa frente à vida, não é ‘o que eu espero de Deus?’, mas sim ‘o que Deus espera de mim?’. Essa percepção de Frankl está em conformidade com o ensino de Tiago, ‘se o Senhor permitir’, pois Ele é o Senhor e tem seus planos para nós.