segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A igreja que deixou de ser Igreja

O maior perigo da igreja é perder Jesus de vista.

Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Apocalipse 3:14-22

Laodicéia era uma cidade localizada na Ásia Menor, uma das províncias do Império Romano, cuja capital era Éfeso. A cidade era um importante centro comercial, por onde passavam 3 estradas do império trazendo notoriedade a cidade e grande fluxo de pessoas. Uma das evidencias do poder econômico de Laodicéia foi sua reconstrução no ano de 62 d.C. pelo seu próprio povo, que se orgulhava de ter obtido tal feito sem pedir auxílio do estado, após ser destruída por um terremoto.

Em Laodicéia havia uma igreja cristã, bem conhecida pelos apóstolos Paulo e João. Inclusive Paulo havia escrito uma carta direcionada aos cristãos que se encontravam nesta cidade (Cl 4:16), e é muito provável que as cartas de Colossenses e Efésios tenham circulado em Laodicéia.

Quando João escreve as palavras de Jesus à Laodicéia, a última das sete igrejas mencionadas, o final do primeiro século se aproximava. A igreja que havia surgido e se fundamentara sobre a doutrina dos apóstolos não era mais a mesma. Não há nenhum elogio sequer na carta a esta comunidade. Pelo contrário, a admoestação que a igreja recebera era para que se arrepender dos seus maus caminhos.

A esperança para esta igreja era que Jesus os amava, e por isso os convocava ao arrependimento. Suas obras e seus testemunhos em nada condiziam com uma vida cristã humilde. A primeira bem-aventurança do Sermão do Monte – bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus – não encontrava eco na igreja. Eles eram soberbos, insubordinados ao evangelho, donos de si mesmos, e o pior de tudo, indiferentes.

A imagem que esses crentes tinham de si era equivocada. Há muito tempo já haviam se afastado do ensino dos apóstolos. A expressão que Jesus usa para eles condiz com cristãos nominais – eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta... – observe que a religiosidade era vazia de significado, não envolvia comunhão pessoal com o Senhor Jesus, pois este foi o convite que o próprio Cristo fez a eles – entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

A imagem que me vem à mente quando penso nesta igreja, é de uma reunião entre os irmãos desta cidade, um culto a Deus. Eles fazem orações longas, cantam com belíssima divisão de vozes, meditam nas Escrituras, entregam suas ofertas e se despedem. Fazem toda a liturgia que se assemelha a um culto cristão, porém sem a presença do próprio Deus. Uma cena terrível, o próprio Deus boicotando o culto!

Isso não era a primeira vez que acontecia na história. Deus já ficou do lado de fora de várias cerimônias religiosas, pois o coração do seu povo estava distante. Vejamos outras advertências de Deus ao seu povo:
Profecia de Isaías ao povo de Judá - o Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu (Isaías 29:13).
Profecia de Jeremias ao povo de Judá, que não se arrependeu e seria dominado pelo Império Babilônico - Porque assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o SENHOR.. (Jr 29:8-10).
A soberba espiritual nos leva a caminhos tortos, passamos a confiar na força de nossas mãos, na sabedoria dos homens, nos recursos que temos. Afastamo-nos do Senhor e nos sentimos fartos com aquilo que possuímos. Um caminho que leva ao declínio espiritual, ao ritual sem significado, a fé dúbia, a religiosidade da indiferença.

O grande problema dessa igreja era a indiferença, cheios de si não havia mais espaço para o discernimento, o arrependimento, o choro, a confissão. A medida que os dias se passavam, mais distantes estavam de Jesus.

Jesus dá um ultimato para que a igreja de Laodicéia volte a ser igreja do Senhor. O apelo de Jesus é que voltem ao bom senso. Que reconheçam a nudez que vivem - Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

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